segunda-feira, 29 de maio de 2023

Jean Haudry (1934 - 2023)

Ontem dia 28 morria o indo-europeias e sancritologo Jean Haudry. Formado École Normale Supérieure e discipulo de especialistas de bulto dentro da linguistica indo-europeia como  Louis Renou, André Martinet, Émile Benveniste e Michel Lejeune. Lecionou sucessivamente nas universidades de Montpellier e Paris como assistente de latim e lingüística, antes de ser nomeado professor de sânscrito e gramática comparada na a Universidade de Lyon. 
Defendeu uma tese em 1977 e, cinco anos depois, fundou um Instituto de Estudos Indo-Europeus na mesma universidade. Além disso, Jean Haudry foi eleito diretor de estudos de gramática comparativa de línguas indo-européias no IV sseção da École Pratique des Hautes Etudes em 1976. Tornou-se professor emérito em 1998 na Universidade de Lion III. 



Além das polémicas publicas sobre a afiliaçâo política que escureceram a su figura, a obra de Haudry tem alguns elementos de fondo interesse para repensar alguns elementos da tradição indo-europeia, como a reelaboraçào que na sua obra "La religion cosmique des Indo-Européens" (1987) fez do trifuncionalismo dumeziliano reinterpretado em termos cosmologicos

Um esquema que mostra uma estrutura espacial do mundo, dividido em três espaços celeste (1ª função), atmosférico (2ª função) e ctónico (3ª função), esta construção espacial teria um reflexo termporal, que num plano micro se fundaria no curso visível diário do sol em 3 etapas (aurora - dia - ocaso/noite) associadas a cada uma das zonas cosmológicas e as cores que os caracterizam no esquema trifuncional (vermelhor (2ª função) - branco (1ª função) - preto/et alii (3ª função)). 

Em um plano mais amplo este esquema temporal se prolonga ao ciclo anual, estruturado pela dicotomia entre uma metade escura/ctónica do ano e outra luminosa / celeste conectadas por um ponto liminar de transiçáo primaveral (associada metaforicamente a deusa Aurora) entre ambos. 


No fundo segundo Haudry o esquema trifuncional seria uma evolução particular de um esquema primário mais básico dual dividido em dois metades antagónicas escura/luminosa que ele considera poderia corresponder mesmo com um estagio de pensamento pré-neolítico que subsistiria em elaborações posteriores mais complexa já de tipo triple.

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Haudry também pesquisou sobre outros elementos da tradição indo-europeia como o simbolismo do fogo no ritual, ou abstrações como a tríade pensamento-palavra-acçáo como estruturante de uma welstanschaum de estes povos e que analisou num interessante livro com esse mesmo título. Uma hipótese especialmente polémica foi a sua recuperação da ideia exposta a inícios do século XX pelo político indu Bal Gangahar Tilak sobre um suposto origem circum-polar dos indo-europeus, a qual foi geralmente rejeitada pela maioria dos especialistas.


Trabalhador incansável há pouco de um mês Jean Haudry sacava ao prelo a sua ultima obra o Lexique de la tradition indo-européenne, concebida como uma grande soma da sua pesquisa durante este anos. Entre os discípulos de Haudry figuram especialistas como estudioso das religiões indo-europeias Philip Jouet ou o nosso chorado e caro amigo Eulogio Losada Badia, que foi em vida catedrático de sânscrito na Sorbona.


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