COWBOYS & YAMNAS: 7 NOTAS TEMPORARIAS
Cada vez estou mais convencido de que a hora de compreender por que as coisas se interpretam de um determinada forma em um tempo e um lugar concreto, por estranho que resulte fora de essas coordenadas geográficas e culturais, ou ainda bizarro que possa resultar ao nossa contemporaneidade o que se dizia normalmente e sem choce nenhum, por ser o sentido comum histórico há apenas umas décadas ou um séculos anteriormente, a que entender os marcos mentais e históricos concretos nos que esses intérpretes (historiadores) viram a luz
Não é nada novo, cada época, cultura, escola, ou historiografia pátria escolhe os temas nos que gosta debruçar os seus esforços, e nada mais e nada menos, em resume, que a velha é tópica frase de que no fundo "toda história é ao fim história contemporânea", isto é indefetivelmente situada e se construye desde um zeit- e mesmo volkgeist determinado e concreto. E diria mais: toda história passada, independentemente do período a tratar, nos é profundamente contemporânea -salve o anacronismo heurístico- e ainda diria mais: a pré-história, a pesar das suas eivas e ocos e menor densidade do registo documental (lógico quando de facto não há documentos propriamente) e precissamente por elas, ainda o é mais: historia contemporanea est, prehistoria contemporaneissima.
Em este sentido, uma das coisas que sempre me tem causado um certo desconcerto, junto com sensação de não estar captando, ou mais bem perdendo-me algo do contexto, além da questão das divergência disciplinas (entre arqueologia, paleo-linguística, etc), e a forte insistência de uma serie de estudiosos do mundo Indo-europeu, refiro-me especialmente arqueólogos (que é do que eu algo entendo), normalmente norte-americanos em defender algumas visões fortemente anclada em um visão histórico-cultural avant-la letre, algo paradoxal se temos em conta que a reação da Neve Archaeology conta está corrente nasce precissamente nos EE.UU (?), defendendo sistematicamente uma serie de ideias sobre o que teoricamente seria a cultura e cosmovisão dos indo-europeus pré-históricos fortemente tradicionais.
Deixo aqui um resume sem ânimo de sistematicidad e e completude de estes topoi historiográficos reiterados por esses autores, normalmente como digo norteamericanos:
1) - Um visão "excecionalista" dos indo-europeus, dotados de uma serie de carateres culturais compulsivos (de ideologia, mentalidade, religião) que os converte em um grupo humano único, cum específica de que em certa forma os programa para se impõr e submeter pelo sua evidente superioridade cultural do seu caráter étnico (volkgeist), formas de vida, e ideologia, religião et aliia, a outros grupos privados de estes caracteres únicos e intransferíveis.
2) - Um ênfase na violência, com um culto a valores guerreiros, e uma certa "cultura da fronteira" em constante movemento e expansão cara o Ocidente, e que rapidamente e vertiginossamente leva a que os Indo-europeus recém chegados vaiam dominando e marginaliçando, pelos varios motivos que acima e abaixo serão expostos, aos grupos pré-indoeuropeus indigenas rapidamente e sem apenas excepção.
3) - Vinculado a isto esta a ideia solidária , de uma suposta superioridade tecnológica que lhes daria uma vantagem militar qualitativa, vantagem militar definida como tecnológica (um novo tipo de armamento) que nas versões mais matizadas adquire a forma de não tanto um desfase tecnológico como na estratégia (uma nova forma organização militar ou de fazer a guerra) umas populações previas que se bem a priori maioritárias, e mais densas demograficamente, parecem ser incapazes de defender-se a sim próprios, se quer pela força da sua mera superioridade numérica contra pequenos grupos de guerreiros indo-europeus
4) - A ideia de uma incomunicação cultural, e bastante dicotómica, e porem insaciável entre a cultura privativa de estes indo-europeus e das possíveis populasses não Indo-europeias (como já dissemos são entendidas a priori como indefensas -?- por faltar-lhe a "mentalidade tipicamente Indo-europeia").
Há mesmo um livro tardio de M. Gimbutas que em uma híper-simplificação algo grosseira -náo é que a fase de esta autora coincidente com o movemento hippie, seja a da melhor Gimbutas desde logo, há uma Gimbutas previa bastante melhor- mesmo chegava a debuxar uma tabula a dobre coluna em que a cada suposto risco cultural indo-europeus (desde a organização social, ao simbolismo das cores, e outras afirmações bem pouco demonstráveis para a pré-história) lhe correspondia como correlato um oposto exato náo-indoeuropeu, que especularmente invertia os valores do termo situado na outra columna.
5) - Como resultado de esta incomunicação cultural e demográfica insalabavel (um risco como é sabido típico da escola histórico-cultural), unido à outros risco-eivas atribuídos previamente aos pré-indoeuropeus como a falta de "destino manifesto" (mentalidade IE), a inferioridade tecnológica, ecológica militar-estratégica, que pus em situação de indefensão aos indígenas frente aos bélicos extrangeiros ávidos de terra invasores (nem que quiseram roçar e prantear algo?!), como resultas de tudo isto entende-se o "cambio cultural" como apenas resultado de um processo de substituição violenta de uma população pré-indoeuropeia em decadência, cada vez mais reduzida e finalmente reduzida a pequenos grupos minoritários, formando "reservações" étnico-linguísticas (o basco, o etrusco, ibero, finico, etc) em processo de extinção ou bem de acusada marginalidade frente a hegemónica realidade de uma florescente cultura indo-europeia que o enche tudo e que como os genes se impõe a golpe de machetada no crânio, fossas comues, e violação coletiva (ao puro estilo Eszebrenicha) de fêmeas capturadas e submetida a quase uma escravitude sexual-marital-procreativa.
Chegados a este ponto, vou ladear de momento o de fantasia psicologicamente "peculiar" (e tal vez mais própria da nossa contemporaneidade de "masculinidades em crise" que dá pré-história) possa haver -ou pareça haver- na forma em que algum arqueólogo e não -arqueologo -geralmente varão- se recreiam em estes detalhes e interpretações algo macabras e com certo râncido arrecendos a feromona.
Tampouco vou entrar, em como à inversa desde uma interpretação feminista fortemente NewAge -herdeira do tardo-gimbutismo dos 60-70- isto se converte na imagem arquetípica e quintaesencialista das maldades quase eternas do patriarcado e de uma masculinidade esencialiçada até a quase -ou sem o quase- naturalização biológica.
Ambos pontos de vista entendo são não apenas erróneos por caim em exagerações acriticas injustificadas senão sobre tudo porque no fundo são apenas mera imagens "especulares" uma da outra, que refletem justo as duas cara invertidas dum mesmo tópico, que no fundo nunca se chega a questionar. Mas agora não me posso deter em isto
Volvamos pois ao argumento principal:
6) - tudo isto da como resultado a uma visão no fundo unilinear e excessivamente uniforme do "Cambio Cultural", que o funda tudo na palavra "invasão" sem molestar-se frequentemente nem sequer em definir as causas de porque de facto um grupo humano se lhe ocorre migrar ou invadir nada ( "... não o expliques mais que assim é a panaceia"! ...digo "a Rosa"), os invasores/migradores invadem e/ou emigram simplesmente por "Gosto pela Aventura" e porque tenhem "mentalidade de invadir" e já está!; e negligenciam porém qualquer outro fator de cambio cultural, obviando o facto de que os grandes câmbios culturais quando se dão normalmente respondem quase sempre a uma causalidade multipla, e que a gente quando se vai do local onde vive é porque tem algum motivo material, demasiado material, para isso
Também para os autores situados em este cómodo comodim "invasivo", que o explic tudo e não precisa ser explicado, não parece haver nenhuma especial motivação para considerar as diferencias entre diversas formas de "migração" (individual, coletiva, ocasional, permanente, cíclica, etc) nem tampouco reflexessionar muito sobre as suas possíveis motivações (guerra, comercio, parentesco, etc) ou as opções possíveis de modelos políticos, económicos, sociais que poderiam dar sustento a estas causas agentes, e, como seria lógico, em base a isto desenhar modelos explicativos hipotéticos o suficientemente complexos para adaptar-se a complexidade dos multíplex dados materiais disponiveis (arqueológicos, genéticos, linguísticos, botânicos, faunísticos, climatológicos, etc, etc), modelos hipotéticos e que possam ser testados retrodictivamente, além de qualquer circularidade argumental, sobre o registo disponível na actualidade ou por exumar ainda.
7) - E "last but not least": Cavalos!, Cavalos!, e mais cavalos!!: Um quase obsessiva Hipofilia, que da uma visão tal vez excessivamente hiperbólica da importância do uso do cavalo para o contexto de épocas como o terceiro milénio, incidindo frequentemente na ideia de que essa caráter fortemente hípico do mundo Indo-Europeu é um fator determinante e crucial no pressuposto a priori sucesso militar sobre os indígenas não-indoeuropeus.
E isso a pesar , independente te dá época em aparecerá a equitação, de que essa impotância militar e ideológica do cavalo não se faz pressente arqueologicamente em absoluto até datas muito mais tardias como o Bronze Final (carro de guerra) e idade do Ferro (uso da cavaleiria nos exercitos) ou de que o tudo o armamento usado durante o terceiro milénio não Europa é apenas apto para combate a pé e não sob lombo de um equídeo.
Bom, deixo aqui estes comentário extemporâneos, grosseiros na forma e no fundo, ainda certamente sem polir, e seguramente extravagantes, pelo que de util ou sugerente puderam ter para o debate. Embora seja assim evidente imperfeção e escessos -algo vesànicos- do texto (que lhe vou fazer "é defeito do animal" mea culpa), creio que ao menos algo tenho mostrado de forma clara, de forma muito clara, e até obscena em essa claridade diria mesmo, de por onde é que penso vai, ou bem pode ir uma certa linha argumental de fundo em tudo isto.
Assim o entendo ao menos segundo esta minha intuição hipotética,apenas improvissada agora,, de que algo semelhante pudera haver trás essa perceção de quase sentido comum que. a jeito de sesgo cognitivo-cultural, asolaga algumas interpretações do exótico passado pré-histórico da Europa feitas desde um lugar e um tempo particular no geográfico, histórico e político, e, que a mim pessoalmente, me resultam -ou resultavam até agora se é que em isto ainda algo acerta (e tiver alguma base)- francamente desconcertantes.
Penso não preciso, e tampouco saberia agora desenrola-lo de outra forma mais complexa, clara ou algo menos desordeada, que lhe engadira ao já dito mais detalhes e erudição, explicar o porque este poderia, ou deveria ser certamente, o esquema paradigmático, si se prefere o mapa cognitivo, que subconscientemente funciona a modo de artefacto cultural parasitario na perceção de um fenómeno em principio tão alheio, como pudera ser ao caso norte-americano, o dos Proto-Indoeuropeus sitos em algum ignoto Urheimat ou Urheimates Caucasico-Esteparios.
Esse certo sentido comum que no meu parecer, e penso que em isto (salvando a exceção Danesa, da qual ainda não tenho uma pintura historiograficamente abondo clara nem precissa, penso me falta algo de contexto e dados, o confesso), pelo que toca ao conjunto do contexto europeu não me equivoco excessivamente em que resultam bastante menos obvias do que o parecem ao outra beira do Atlántico, resultando mesmo as vezes até desconcertantes nas suas verssões de maior rotundidade.
De ai em parte poderiam derivar algumas criticas e suspicácias, mais em broque ou matiçadas segundo o autor de que se trate,que se dão na arqueologia pré- e proto-histórica europeia ante certas visões dos arqueólogos (pro-)indo-europeistas made in USA. obvio é que na Europa também nos pesa o nosso proprio passado recente de certo, e os ecos do nazismo e a Shoa ainda ressoam no ar.
Ou dito de outro jeito, porque esta insistência e obviedade se da tão naturalmente em um Pais que foi criado e definido territorialmente de jeito muito acelerado (em apenas um século) pelo método básico de expansão violenta e multitudinária e constante a lombos dos seus velozes cavalos cara o Ocidente, e logo de esse carruagem mecânica que foi o “Cavalo de Ferro”?. Exterminando sistematicamente em esta expansão humana arrincoando âs a priori inasimilaveis populações indígenas que antes habitavam maioritariamente, e até densamente em algum caso (contra o argumento do res nullius ou "deserto demográfico" aducido normalmente) esse "espaço vital".
Populações massacradas e arrincoadas a coutos fechados graças a evidente superioridade tecnológica proporcionada aos recém chegados pelo winchester de repetição e o Cold 45, superioridade técnica implementado ademais por uma mentalidade fortemente individualista e vinculada a um claro ethos heroico veiculado pelo uso expeditivo e autossuficiente da violência exercida pelas próprias "frias e não-mortas mãos" que empunham a carabina de trampeiro de Oklahoma ou mais recentemente o rifre de asalto semiautomático, e com o recitado da Segunda Emenda sempre nos beiços.
Criando o mito ideológico de uma cultura e um Homem da "fronteira" como base de uma identidade cultural e démica peculiar e, ao seu entender excepcional no conjunto da história humana, o qual até dia de hoje ainda resõa e mesmo criou uma épica particular, dotada de um atrativo estético evidênte, com sua própria dicção formular fílmica e ainda seus próprios aedos
Imagens da composição: Esquerda: enney_-Rough Riding Rancheros" de Frank Tenney Jonhson (1874-1939), 1935; Direita: ilustração do artista Christian Sloan Hall
Algumas referências:
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Das, J. D. & Tendler, J. (2017): An Analysis of Frederick Jackson Turner's The Significance of the Frontier in American History. Macat Library
Duchesne, R. (2009) "The Aristocratic Military Ethos of Indo-Europeans and the Primordial Origins of Western Civilization" Comparative Civilizations Review Nº 60/60 pp. 11-47
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Brenna, J. E. (2011): "La mitología fronteriza: Turner y la modernidad" Estudios Fronterizos Nº12/24 pp. 9-34 PDF
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Gimbutas, M. (1991): The Civilization of the Goddess. The World of Old Europe. Harper Collins. São Francisco.
Noble, D.W. (1965): Historians against history; the frontier thesis and the national covenant in American historical writing since 1830. University of Minnesota Press, Minneapolis.
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Turner, Frederick J. (1920) The Frontier in American History. New York, Henry Holt & Co. disponivel em: archive.org
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Wrobel, D. M. (2013): Global West, American Frontier: Travel, Empire, and Exceptionalism from Manifest Destiny to the Great Depression. University of New Mexico Press
"Estudos Indo-Europeus e Decolonização" Archaeoethnologica blog 18-01-2023: aqui
"De De porque os indoeuropeus te somos "a-normais"" Archaeoethnologica blog 20-6-2009: aqui
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