Ao fio da anterior postagem sob o titulo de Cowboy & Yamnas, e em relação com o tema da mulher como personificação da Nação vamos a deternos numa pequena leitura iconográfico-contextual de esta esta imagem bastante eloquente na sua mensagem que aqui temos. A obra intitulada "American Progress" foi pintada pelo artista John Gast (1842-1896) em 1872, por tanto em pleno momento de expansão cara o Selvagem Oeste dos EE.UU
A mulher sobredimensionada que circula entre os colonos e "Colúmbia" a personificação oficial dos EE.UU, correlato feminino do agora tal vez mais conhecido "Uncle Sam"; a mesma que figura que portando um facho podemos topar no começo dos filmes da Columbia Pictures
Em esta ocasião Colúmbia vai sem o goro frígio nem elementos alusivos das estrelas e barras na vestimenta. O livro que leva, e que a priori bem pudéramos supor fora a Bíblia, não o é senão de facto um "manual escolar" (School Book) simbolizando a cultura educação que chegam a seu passo ao mesmo tempo que os primitivos índios, e outras varias feras selvagem fogem espavoridos a fume de caroço a medida que se produz avance de Colúmbia, junto com os colonos e o Progresso em geral: exemplificado este pelo telegrafo o Cavalo de Ferro, e a agricultura ;algo que gostaria muito a J. Locke que já falara de que isso que tinham os índios não te era de tudo "propriedade" realmente como veremos.
diversas representações de Colúmbia como personificação da América: a) "Be Patriotic" de Paul Stahr, ca. 1917-18, Colúmbia vestida de bandeira americana e boné frígio, que significa liberdade e a busca pela liberdade, de um pôster patriótico da Primeira Guerra Mundial; b) A capa do jormaç o Puck de 6 de abril de 1901 retrata a Colúmbia usando um navio de guerra com as palavras "World Power" como seu gorro de Páscoa. A figura do couraçado coroando testa reinterpretar a imagem clássica da Fortuna-Tutela-Tyche que porta a muralhas da cidade a jeito de coroa (coroa mural) como símbolo de proteção militar, um representarão do continente América previa a sua "nacionalização" como Colúmbia, luzindo junto a atributos clássicos como a Cornucopia outros denotadores de indigenismo, porcelana de Meissen do 1717
E sim, caro leitor Colúmbia leva a corda do telégrafo que vai colocando a seu passo sem que fique muito claro quêm é o que coloca os pauzinhos (coisas das alegorias, que, como o nome diz, são alegóricas e não se preocupam demasiado por esses detalhes práticos mundanos)
Obviamente a situação real da colonização distava muito de esta "pacificada" cena de fugida e abandono natural das terras elos seus primigenios ocupantes. O que funciona aqui é um mecanismo ideológico profundamente asumido na mente dos colonizadores. Entra em jogo uma contraposição entre o "civilização" e a agricultura vs. o "selvagem" que como tal é exemplificado pelos índios que não cultivariam (o qual em muitos casos não era certo, pois vários deles desde os iroquês aos índio Pueblo eram de facto agricultores sedentários) e as "feras" não-humanas já sejam os depredadores ou os herbívoros selvagem como o bisontes, digo feras não-humanas porque os índios em esta equiparação são vistos como "homens feros", autenticas feras humanas, mais que humanos propriamente.
Como digo isto encaixa muito bem coa teoria que mesmo se tem denominado por algum como "individualismo possessório" de J. Locke que no seu "Segundo Tratado sobre o Governo Civil" defendia que a propriedade era gerada pelo "trabalho" mediante a qual o sujeito enagenava os bens do que estavam na Natureza em "Comum". Locke pus vários exemplos de isso tomados hipoteticamente dos índios da Norte América; basicamente do estilo de: "vai um índio e caça um cervo, logo o cervo e seu e não de outro".
Isto é algo que agora, pela Antropologia sabemos que não funciona realmente assim, já que existem em muitas sociedades reais de caçadores-coletores, nas que ou bem o caçador não pode consumir -por um tabu- ele próprio a peça que caçou, apenas a que outros caçaram. ou bem se vê obrigado moralmente a compartir pela moral imperante a su caça, ou mesmo pelo escárnio dos outros caçadores que parodiam e se bulram dos caçadores que tèm sucesso
protesta anti-enclosures, o 16 de maio de 1751, os camponeses de Richmon escalaram o muro de Richmon Park para realizar a cerimônia anual de "bater nos marcos" (beating the bounds) recorrendo os limites das antigas propriedades da Freguesia que lhes foram expropriadas.
Algo de Bibliografia
Locke, J. (1689): The Two Treatises of Civil Government (Hollis ed.). A. Millar et al. acessivel aqui
Kramer, M. H (1997): John Locke and the Origins of Private Property: Philosophical Explorations of Individualism, Community and Equality. Cambridge University Press. Cambridge.
Macpherson, C. B (1964): The Political Theory of Possessive Individualism: Hobbes to Locke. Oxford University Press. Oxford.
Marx, K. (2018): La Llamada Acumulación Originaria. Fundación El Perro y la Rana. Caracas (obviamente o celebre capitulo extratado de O Capital) disponível em: archive.org
Padgen, A. (1986): The fall of natural man : the American Indian and the origins of comparative ethnology. Cambridge University Press. Cambridge.
Padgen, A. (1988): La Caída Del Hombre Natural. El indio americano y los origenes de la etnología comparativa. Alianza. Madrid acessivel em archive.org
Sandweiss, M.A.: "John Gast, American Progress, 1872" Picturing United States History https://picturinghistory.gc.cuny.edu/john-gast-american-progress-1872/
Tocqueville, A. (2012): Democracy in America. Liberty Fund, Indianapolis (ediçâo crítica com apéndices dos manuscritos previos de Eduardo Nolla) acessível aqui
Ou as duas lições que lhe adiquei a Locke na asignatura de História das Ideias Políticas 2 para os alunos do grau de Ciências Políticas da UNED:
Tenreiro-Bermúdez, M. (2021) "Teoría Política de la Ilustracción 1: J. Locke" accesivel em Cadena Campus UNED
Tenreiro-Bermúdez, M. (2021) "Teoría Política de la Ilustracción 2: J. Locke" accesivel em Cadena Campus UNED
Sem comentários:
Enviar um comentário