Acaba-se de publicar o achádego de âmbar báltico mais antigo da Europa Ocidental, datado no 4 Milénio em pleno Neolítico, e 1000 anos anterior ao que até agora era objeto mais antigo de esta resina fóssil (já de época campaniforme) ... e onde é que apareceu, pois num local tão longe na sua zona de origem como o Noreste da Península Ibérica no jazigo de Cova del Frade (Matadepera, Barcelona)
Em concreto, pequena conta de âmbar apareceu numa série de enterramentos dentro da caverna em níveis avançados do neolítico. Para a mesma cronologia se vem é certo que existe âmbar datado anteriormente -entre o 4300 - 4000 A.C- nos Países Baixos como se destaca numa conversa no twitter de um dos autores (
aqui), neste caso se trata de material local do Mar do Norte ou Alemanha
Obviamente, como sempre, nestas questões o mais interessantes não é quem o tem mais antigo, mais grande (ou pequeno, as vezes a miniatura também é um grau) melhor, ou "mais melhor", senão o indício que nos oferece de contactos a muito longa distância, e o que isso implica no plano social e simbólico: Quanta rede de troca, economia do dom, interrelação pessoais tecidas, quanta instituição, ... quanta vida!, há aqui. Indicio que ao ser conectado e contextualizado com outros indícios. Como sintetizam os perfeitamente
os autores do artigo:
"Objetos
feitos de matérias-primas “exóticas” são elementos-chave da cultura material
arqueológica. Do ponto de vista da produção, podem informar sobre comércio e
intercâmbio, mobilidade e organização artesanal; os seus padrões de consumo
estão frequentemente ligados a questões de estatuto social, identidade e
género.
As
redes culturais alargadas foram tão fundamentais no passado como o são no
presente. Especificamente, as redes comerciais de longa distância poderiam
permitir o acesso privilegiado ao conhecimento, às tecnologias, aos objetos e
às relações sociais. Da mesma forma, a disponibilidade restrita de determinados
materiais poderia ter gerado prestígio e outras formas de diferenciação
social. ... É, portanto, importante considerar como o comércio de longa distância e o exotismo serviram como recursos simbólicos"
A Arqueologia se assenta não em outra coisa senão nesse "Paradigma Indiciário", e em esse sentido a partilha essa estranha virtude com a Micro-História ao jeito de Ginzburg, de fazer -parafraseando livremente a cantiga popular- falar ("cantar") tanto a uma coisa tão pequena. Para mais informação sobre este pequeno grande achádego, seu enquadramento e contexto remetemos aos leitores ao artigo original de Nature, saído justo hoje
Artigo
Murillo-Barroso, M., Cólliga, A.M. & Martinón-Torres, M. (2023): "The earliest Baltic amber in Western Europe" Sci Rep 13, 14250 DOI: 10.1038/s41598-023-41293-0
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