segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Colin Renfrew (1937-2024)

Acaba de ir-se um dos mais grandes. Ontem dia 24 morria Colin Renfrew, vulto de primeira ordem da arqueologia contemporânea. Renfrew foi uma das figuras centrais da "Nova Arqueologia" dos 70, a que aportou grandes contribuições e conceitos como o de "interação política entre pares" (peer-polity interaction) de grande utilidade para descrever os diversos processos de interação (competição, emulação, troca, conflito) entre unidades políticas autónomas que intervém nas dinâmicas de muitas sociedades da pré- e proto-história. 

Além da sua adscrição inicial ao funcionalismo da corrente processual, Renfrew soube reciclar-se inúmeras vezes sendo pioneiro de muitas linhas de pesquisa de plena atualidade, como a arqueo-genética, uma linha que desenrolou durante anos em solitário praticamente, até o desembarco massivo recente da paleogenómica, da mão das análises de ADN Antigo, no campo da arqueologia. 

Também iniciou outra linha actual de pesquisa a Arqueologia Cognitiva, numa data tão tempera como o ano 1994 com o livro "Ancient Mind", linha que ampliou e consolidou em colaboração com Lambros Malafouris, após a revolução que nas Ciências Cognitivas supus as técnicas de neuroimagem durante as primeiras décadas dos 2000.

Muitos lhe devemos a Colin Renfrew ter-nos introduzido nisto da arqueologia através dos seus livros já clássicos como "A Origem da Civilização", "Antes da Civilização. A revolução do radiocarbónio na pré-história europeia" ou "Arqueologia e Linguagem". 

Este último livro gerou muita controvérsia no âmbito arqueológico e linguístico, pela sua proposta de uma via diferente de indo-europeização vinculada à expansão do neolítico desde Anatólia. Esta obra abriu um período de cooperação de Renfrew com vários linguistas, partidários da sua hipótese anatólica, e geneticistas que se prolongou durante várias décadas. Um interesse tempera pela arque-genética que não se restringiu apenas ao âmbito europeu senão que também se debruçou sobre a etnogeneses de outras zonas geográficos como Pacífico colaborando em estudos sobre Papua-Nova Guine ou a Nova Zelândia (aqui). 


Em tudo isto Renfrew mostrou uma abertura de mente e um flexibilidade que lhe permitiu adaptar-se aos câmbios dentro da disciplina, fincando sempre a cabeça de novas correntes e linhas inovadoras. A isto unia uma honestidade intelectual, a que não importava retificar de ser necessário (como sucedeu no caso da sua aceitação final da teoria estépica de Gimbutas), uma virtude, muitas vezes, difícil de topar no mundo académico. 
   
Renfrew no sitio arqueológico de Keros do qual dirigiu as excavações

Vai-se por tanto um grande referência da arqueologia, sem a qual seria difícil reconstruir a história da disciplina desde a segunda metade do século XX até a atualidade. O mundo da arqueologia fica hoje de luto.

Sit tibi terrae levis


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