sexta-feira, 30 de agosto de 2024

O Instinto Social - Livro

The Social Instinct

Raihani, N. (2021): The Social Instinct: How Cooperation Shaped the WorldSt. Martin's Press. Nova York. ISBN: 9781250262813

Sinopse 
A cooperação é o meio pelo qual a vida surgiu em primeiro lugar. Foi assim que progredimos através da escala e da complexidade, desde cadeias flutuantes de material genético até aos estados-nação. Mas, dado o que sabemos sobre os mecanismos da evolução, a cooperação é também um enigma. 


Como começa a cooperação, quando, a nível darwiniano, tudo o que importa aos genes do seu corpo está a ser transmitido à geração seguinte?. Porque é que as colónias de suricatas cuidam dos filhos umas das outras? Porque é que os pássaros tagarelas do Kalahari formam colónias nas quais apenas um casal se reproduz? E como é que alguns peixes-bodiões-corais realmente se castigam uns aos outros por prejudicarem peixes de outras espécies?


Biólogo de formação, Raihani analisa onde e como surge o comportamento colaborativo em todo o reino animal e que problemas resolve. Ela revela que as espécies que exibem um comportamento cooperativo – ensino, ajuda, preparação e auto-sacrifício – mais semelhantes ao nosso tendem a não ser outros macacos; São aves, insetos e peixes, ocupando ramos muito mais afastados da árvore evolutiva.~


Ao compreender os problemas que enfrentam e como cooperam para os resolver, podemos vislumbrar como a cooperação humana evoluiu pela primeira vez. E podemos também compreender o que existe na forma como cooperamos que tornou os seres humanos tão distintos – e tão bem-sucedidos.

INDEX


Evolutionary Human Sciences Nº 6 - 2024

Evolutionary Human Sciences

 Nº 6 - 2024

   
INDEX
  
Editorial - The world has gone mad
Ruth Mace

Research Article

Better-than-chance prediction of cooperative behaviour 
from first and second impressions
Eric Schniter, Timothy W. Shields

US homicide rates increase when resources are scarce 
and unequally distributed
Weston C. McCool, Brian F. Codding

Material insecurity and religiosity: A causal analysis
Benjamin Grant Purzycki, Theiss Bendixen

Geography is not destiny: A quantitative test of 
Diamond's axis of orientation hypothesis
Angela M. Chira, Russell D. Gray, Carlos A. Botero

Grandmother effects over the Finnish demographic transition
Simon N. Chapman, Virpi Lummaa

Maternal grandmothers buffer the effects of ethnic 
discrimination among pregnant Latina mothers
Delaney A. Knorr, Molly M. Fox

Investigating environmental effects on 
phonology using diachronic models
Frederik Hartmann, Seán G. Roberts, 
Paul Valdes, Rebecca Grollemund

Methods Paper

Identifying culture as cause: Challenges and opportunities
Sirio Lonati, Rafael Lalive, Charles Efferson

Review

Sex ratios and gender norms: why both are needed to 
understand sexual conflict in humans
Renée V. Hagen, Brooke A. Scelza

Research Article

Hunter–Gatherer children's close-proximity networks: 
Similarities and differences with cooperative 
and communal breeding systems
Nikhil Chaudhary, Abigail E. Page, Gul Deniz Salali, 
Mark Dyble, Daniel Major-Smith, Andrea B. Migliano, 
Lucio Vinicius, James Thompson, Sylvain Viguier

Review

Cultural evolution: A review of theoretical challenges
Ryan Nichols, Mathieu Charbonneau, Azita Chellappoo, Taylor Davis, Miriam Haidle, Erik O. Kimbrough, Henrike Moll, Richard Moore, 
Thom Scott-Phillips, Benjamin Grant Purzycki, Jose Segovia-Martin

Corrigendum

The shape of lipsmacking: socio-emotional regulation in bearded capuchin monkeys (Sapajus libidinosus) – Corrigendum
Natalia Albuquerque, Carine Savalli, Marina Belli, 
Ana Clara Varella, Beatriz Felício, Juliana França, 
Patrícia Izar

Why cultural distance can promote –or impede– 
group-beneficial outcomes
Bret Alexander Beheim, Adrian Viliami Bell

Hunter–gatherer genetics research: Importance and avenues
Cecilia Padilla-Iglesias, Inez Derkx

Methods Paper

Measuring perceived fitness interdependence between 
humans and non-humans
Katie Lee, Darragh Hare, Bernd Blossey

Research Article

Misperception of peer beliefs reinforces inequitable 
gender norms among Tanzanian men
David W. Lawson, Zhian Chen, Joseph A. Kilgallen, 
Charlotte O. Brand, Alexander M. Ishungisa, 
Susan B. Schaffnit, Yusufu Kumogola, Mark Urassa

Article

Cross-cousin marriage among Tsimane forager–horticulturalists 
during demographic transition and market integration
Arianna Dalzero, Bret A. Beheim, Hillard Kaplan,
 Jonathan Stieglitz, Paul L. Hooper, Cody T. Ross, 
Michael Gurven, Dieter Lukas

Isolating a culture of son preference among Armenian, 
Georgian and Azeri Parents in Soviet-era Russia
Matthias Schief, Sonja Vogt, Elena Churilova, 
Charles Efferson

Corrigendum

Hunter-gatherer genetics research: Importance 
and avenues – Corrigendum
Cecilia Padilla-Iglesias, Inez Derkx

Perspective

Formalising prestige bias: Differences between models 
with first-order and second-order cues
Seiya Nakata, Akira Masumi, Genta Toya

Research Article

Dyadic inter-group cooperation in shotgun hunting 
activities in a Congo Basin village
Vidrige H. Kandza, Haneul Jang, Francy 
Kiabiya Ntamboudila, Sheina Lew-Levy, 
Adam H. Boyette

Religiosity and gender bias structure social networks
Erhao Ge, CaiRang DongZhi, Ruth Mace

Climate, climate change and the global diversity of human houses
Robert R. Dunn, Kathryn R. Kirby, Claire Bowern, Carol R. Ember, 
Russell D. Gray, Joe McCarter, Patrick H. Kavanagh, Michelle Trautwein, Lauren M. Nichols, Michael C. Gavin, Carlos Botero

Opinions on hard-to-discuss topics change 
more via cohort replacement
Nicolas Restrepo Ochoa, Stephen Vaisey

Investigating the effects of social information on 
spite in an online game
Robin Watson, Thomas J. H. Morgan, 
Rachel L. Kendal, Julie Van de Vyver, 
Jeremy Kendal

The role of mating effort and co-residence history 
in step-grandparental investment
Jenni E. Pettay, David A. Coall, 
Mirkka Danielsbacka, Antti O. Tanskanen

How culture shapes choices related to fertility and 
mortality: Causal evidence at the Swiss language border
Lisa Faessler, Rafael Lalive, Charles Efferson

Review

Does bride price harm women? Using ethnography 
to think about causality
Eva Brandl, Heidi Colleran

Research Article

The floating duck syndrome: biased social learning 
leads to effort–reward imbalances
Erol Akçay, Ryotaro Ohashi
   

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quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Paisagens do Medo na Pré-história



Um artigo recente no Journal of Royal Society bem a debruçar-se sob o esquivo problema da paleo-demografia e os padrões que a determinariam, focando-se num aspeto que raramente tem sido considerado ao respeito como condicionante para as sociedades da pré-historia: A guerra. 

Os autores observam que esta elisão da guerra como fator que influi nas variações da demografia tem se baseado numa aproximação simplista a questão considerando unicamente os efeitos diretos do conflito. Esta aproximação parte de que a tanto a pesquisa etnográfica, arqueológica, como a analogia com períodos históricos, com um registo mais amplo de processos demográficos como a Idade Moderna, amostram uma incidência muito limitada da mortalidade bélica direta sob o conjunto da população. 


Apenas uma pequena parte de combatente e mais limitada de vítimas colaterais são resultado, e estas perdas populacionais têm escassa pervivència, pois ao igual que sucede após outros fenómenos catastróficos de maior incidência (epidemias, crises de subsistência) a população recupera rapidamente os seus níveis prévios de crescimento.

O ênfase nas vítimas diretas da contenda teria opacado outros efeitos indiretos sobre as populações, como os derivados do deslocamento da gente que foge de lugares afetados pelos combates. A fugida das zonas exposta leva aparelhado o seu despovoamento, mas também ao invés contribui a saturação demográfica sob as zonas de refúgio recetoras dos refugiados. Em sociedades pouco complexas e de baixo nível tecnológico, esse súbito aumento demográfico pode afetar a capacidade de sustentação agrícola das zonas refugio.

Os autores observam uma correlação, em casos históricos e etnográficos, entre deslocamentos por guerras e o aumento da mortalidade e degradação das condições de vida das populações deslocadas. Isto não afeta apenas a primeira geração que se deslocou senão que ´pode ser perdurável no tempo afetando a seus descendentes. 


Igualmente se a guerra é persistente numa área determinada isto da lugar a paisagens concreta, caraterizados pelos assentamentos em zonas pouco acessíveis e singelos de defender (como os povoados fortificados no topo de colinas por exemplo) no entanto aquelas zonas mais acessíveis e expostas aos ataques ficam permanentemente despovoadas, constituindo um "non-mans-land"





Este padrão dual é o que se tem denominado como "Paisagens do Medo", e pode ser correlacionado com padrões de assentamento localizáveis no registo arqueológico, tanto em época pré- como proto-histórica; sendo que os autores têm localizado este fenómeno em assentamentos do Holoceno-Meio, correspondendo com a chamada crise do Neolítico, durante a qual parece dar-se um aumento da violência em zonas da Centro-Europa, tal vez relacionado com algum evento climático ou com um colapso do sistema produtivo.  Os autores observam que este tipo de fenómeno de configuração de paisagens duais pode chegar a afetar a áreas muito amplas, de entorno a uns 500 km. 


Igualmente, os autores consideram no seu estudo outros efeitos além dos demográficos, sob o sistema de valores e a ideologia, da guerra continuada. Os povos expostos à ameaça de ataques desenrolam atitudes violentas, e uma inclinação a guerra, que pode favorecer uma deriva a valores fortemente patriarcais (mais não sempre, veja-se por contra os casos matrilocalidade e matrilinearidade entre povos "guerreiros" estudados por Divale) vinculados a figura do guerreiro varão. 


Isto se tem argumentado já para alguns povos ameríndios como os jibaros ou as yanomos, descritos como inatamente belicosos por autores como Chagnon, mas dos que a sua predisposição a guerra se tem explicado ultimamente não como um elemento autogéneo senão uma reação cultural a pressão constante que supuseram os ataques dos colonos brasileiros. 


Esse ethos guerreiro pode igualmente favorecer a escalada bélica, ou mesmo influir na hierarquização política e o expansionismo militar, convertendo-se assim o grupo agredido em agressor e o invadido em invasor. Neste sentido os autores recordam as teorias que enfatizam o papel da guerra na transição cara o Estado na linha da célebre "Teoria da Circunscrição" de Robert Carneiro. 


Outro possível efeito cultural que os autores destacam é a influência da instabilidade bélica na mudança da  cultura material. O deslocamento de grupos de população pode levar estilos e tipologias materiais a área distintas da sua origem, mas igualmente os períodos de crise e mobilidade extrema podem favorecer dentro do próprio grupo um câmbio de costumes, padrões e estilos, no entanto, os períodos de estabilidade favoreceriam um maior continuidade cultural em geral.
    

Artigo

Kondor, D., Bennett, J.S., Gronenborn, D. & Turchin, P. (2024): "Landscape of fear: indirect effects of conflict can account for large-scale population declines in non-state societies" Journal of Royal Society Nº   21/ 217  pp.   DOI: 10.1098/rsif.2024.0210

Bibliografia complementar

Divale, W. (1974): "Migration, External Warfare, and Matrilocal Residence" Cross-Cultural Research Nº 9/2 pp. 75-133  DOI: 10.1177/106939717400900201

Kondor, D., Bennett, J.S., Gronenborn, D. et al. (2023): "Explaining population booms and busts in Mid-Holocene Europe". Science Reports Nº 13, 9310   DOI: 10.1038/s41598-023-35920-z

Turchin P, Korotayev AV (20060: "Population dynamics and internal warfare: a reconsideration" Social Evolution History Nº 5 pp. 112–147 PDF


Postagem relacionada: Castros, Poleis e aldeias na Tessália

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Evolução Biocultural - Livro

Biocultural Evolution

Karakostis, A.F. & Jäger, G. (Eds.) (2023): Biocultural Evolution: An Agenda for Integrative Approaches. Kerns Verlag. Tubinga  ISBN: 978-3935751-38-4

Sinopse  
A evolução humana é definida por uma interação multifacetada de fatores biológicos e culturais, que compreendem o foco de um espectro diverso de campos científicos. 




Este volume editado visa estabelecer vínculos interdisciplinares por meio de uma série de nove estudos que discutem criticamente os métodos atuais, estruturas de hipóteses e perspetivas futuras para reconstruir o comportamento habitual em humanos do passado. 


Os autores são especialistas nas áreas de antropologia biológica, primatologia, arqueologia experimental e linguística.

INDEX

 Preface
Karakostis, F. A., & G. Jäger

“Do humans only do what they are good at?”: 
Distinguishing between daily behaviors and 
evolved functional adaptations in fossil hominins
Karakostis, F. A

Inferring ancient human activities through skeletal 
study: An example from Archaic Greece
Buikstra, J. E.

Effects of physical activity and impact loading 
rate on knee osteoarthritis
Wallace, I. J., G. J. Riew, R. Landau, A. M. Bendele, 
N. B. Holowka, T. L. Hedrick, N. Konow, 
M. Ruiz, & D. E. Lieberman. 

A functional framework to grasp goal-directed behavior: 
Stone knapping, a good paradigm of human behavior
Bril, B. 

Ape knapping then and now: Limited social learning 
of sharp stone-tool making and use in naïve non-human apes
Motes-Rodrigo, A., & C. Tennie

A comparative multimodal perspective on the evolutionary 
origins of tool use and handedness
Kalan, A. K.. 

Dental fricatives: Patterning, evolution, and factors 
affecting a rare class of speech sounds
Dediu, D., J. Lin, S. R. Moisik, & S. Moran
 
Rate variation in language change: Toward distributional 
phylogenetic modeling
Cathcart, C. A.

Consequences of reflexivity in language
Enfield, N. J., & J. Sidnell.



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terça-feira, 27 de agosto de 2024

Arqueologia e Arte das Aves de Rapina

The Art and Archaeology of Human Engagements with Birds of Prey

Wallis, R.J. (ed.) (2023): The Art and Archaeology of Human Engagements with Birds of Prey. From Prehistory to the Present. Bloomsbury Academic. Londres  ISBN: 9781350268005

Sinopse  
De todos os grupos de aves, as aves de rapina em particular têm sido um assunto proeminente de fascínio em muitas sociedades humanas. Este livro demonstra que a arte e a materialidade dos engajamentos humanos com aves de rapina têm sido significativas ao longo do tempo e em todo o mundo, desde a pré-história mais antiga até o pensamento indígena nos dias atuais. 




Com base numa ampla gama de estudos de caso globais e uma pluralidade de perspetivas complementares, ele explora a dinâmica variada e fluida entre humanos e aves de rapina, conforme evidenciado neste registo histórico-artístico e arqueológico diverso. 



´
De suas representações como seres poderosos na arte visual e os seus papéis importantes nas mitologias indígenas, ao significado de suas partes do corpo como agentes ativos em rituais religiosos, a deposição intencional dos seus restos faunísticos e a exibição dos seus corpos preservados em museus, não há dúvida de que as aves de rapina têm sido figuras de grande importância para a formação das sociedades e da culturas humanas. 




No entanto, vários capítulos deste volume estão particularmente preocupados em olhar além da dicotomia cultura-natureza e dos relatos centrados no ser humano para explorar outras perspetivas e os argumentos pós-humanistas sobre as ontologias e epistemologias do binómio humano-raptor. Os colaboradores reconhecem que as relações humano-raptor não são movidas exclusivamente pela intencionalidade humana, e que quando essas espécies se encontram, elas se relacionam e se tornam umas com as outras. 




Essa abordagem focada em 'raptor-com-humano' permite uma reformulação produtiva de questões sobre interstícios humano-raptor, possibilita um novo pensamento sobre evidências estabelecidas e oferece sinalizadores para intra-ações presentes e futuras com aves de rapina.

INDEX


+INFO sobre o livro em: Art & Achaeology of Birds of Prey

Termalismo nas Províncias Romanas - Livro

Thermalism in the Roman Provinces 

González Soutelo, S. (2024): Thermalism in the Roman Provinces. The Role of Medicinal Mineral Waters across the Empire. Archaeopress. Oxford.  ISBN: 9781803277752  DOI: 10.32028/9781803277752

Sinopse  
Os estabelecimentos termais com águas mineromedicinais representam um caso especial entre os edifícios termais romanos, não só pela adaptação do espaço ao uso dessas águas para fins sanitários, mas também pelas infraestruturas e engenharias que desenvolveram, bem como pela sua função na paisagem.





O termalismo nas províncias romanas é focado no papel dos estabelecimentos termais com águas mineromedicinais nos diferentes territórios do Império Romano, incluindo sua simbiose com a paisagem, bem como as maneiras pelas quais sua construção foi adaptada para dar maior conforto àqueles que vinham aproveitar suas propriedades curativas. 





Mas qual era o papel que esses locais cumpriam em cada província? Por que tanto esforço foi investido na construção desses complexos termais no período romano? Quais elementos podem nos informar sobre as singularidades de sua construção na adaptação às características dessas águas?






Essas e outras questões são analisadas por meio de diferentes sítios termais, com foco particular nas origens do termalismo nos tempos romanos. A monografia visa aprofundar nossa compreensão dos primórdios dessas práticas, apresentar novos dados e promover o conhecimento de uma herança arqueológica e cultural extremamente frágil como parte da história e do desenvolvimento de regiões em todo o Mediterrâneo.

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