quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Chifres, Crânios e o Neandertal Ritual


Normalmente os restos da presença dos Neandertais em sítios arqueológicos geralmente estão associados a atividades de subsistência, como a caça, o processamento e consumo de animais, a preparação de ferramentas ou o uso do fogo. Menos frequentemente ainda que existente, e a evidencia de atividades extrativas como por exemplo o trabalho em pedreiras de sílex, ou e atividades relacionadas ao seu mundo simbólico normalmente enterramentos.  No entanto  o escasso da evidencia de praticas simbólicas entre os Neandertais gerou uma controvérsia entre os pesquisadores sobre se o Neandertal seria utente de capacidade simbólica ou não.


A este respeito a recente datação a alguns anos de algumas das primeiras mostras de arte rupestre em cronologias Neandertais resultou controversa pelas suas implicações. Em este sentido o descobrimento de uma peculiar acumulação óssea no jazigo de Cueva Descubierta vota uma nova luz sobre as capacidades simbólicas do pensamento dos nossos antepassados Neandertais, e bem a confirmar a hipótese do partidários dum Neandertal plenamente simbólico e com umas capacidades cognitivas comparáveis a dos sapiens sapiens





o jazigo de Cueva Descubierta foi topado Vale do Rio Lozoya, no norte da Comunidade de Madrid (Espanha) no 2009 durante trabalhos de prospeção realizados no âmbito da investigação arqueológica desenvolvida na área desde 2002. A caverna, que corre em ziguezague por cerca de 80 m e tem 2 a 4 m de largura, perdeu seu teto desprendido devido a erosão da rocha.   


Durante as excavações dos distintos niveis do complexo em um total de 7, no nivel 3 topou-se uma inussual conentração de restos osseos de grandes herviboros.  Após o analise do contexto estratigrafico, geológico desbotara que este acumuluo de materiais fora resultado do acaso, probocado pela escorrentia da agrua, derruves ou outros processos post-deposicionais que puderam ter juntado em um mesmo local restos sem conexão inicial, pelo que se confirmava como um acumulação resultado de um processo consciente. 


A tipologia da industria litica recuperdad e as dataçoes de Carbono 14 permitiram situar estes resto durante o periodo musterniense e por tanto atribui-los aos neandertais dos quais se toparam alguns restos dentarios no conjunto da cova.



Crânios e chifres

No nível 3 de esta antiga cova foram topado um total de 2.265 restos faunísticos com mais de 2 cm de comprimento foram recuperados, dos quais 1.616 puderam ser identificados taxonomicamente. Entre os restos a maioria correspondiam a ungulados, que dominam na mostra sobre os de carnívoros. Os mais bem representados destes ungulados são os bovideos como o bisonte ou o uro (Bison priscus e Bos primigenius), seguidos a alguma distância pelos cervídeos (Cervus elaphus e Capreolus capreolus), o rinoceronte das estepes (Stephanorhinus hemitoechus) e os cavalos salvagens (Equus ferus). 

Boa parte dos restos osseos ( um 30,5% do total) amostravam o efeito da exposiçao ao lume, tendo sobrido a maior parte de eles carbonizaçao. Chama a atençao inmediatamente em esta acumulaçao de restos faunisticos dois factos: 1) o de que os restos correspondam em um proporçao inusual a cranios, e o que é mais peculiar nao a cranios compretos senao apenas a parte superior e posterior do cranio (faltando o maxilar a parte baixa do cranio), e 2) o facto da seleçao clara dos animais a que correspondem estes animais: todos eles sao grandes herviboros



No total, foram recuperados os restos de 35 crânios, dos quais 28 pertencem a bovinos (B. priscus, 14; B. primigenius, 3; Bos/Bison, 11), 5 a cervídeos (C. elaphus, 5; todos machos com seus chifres não derramados) e 2 para rinocerontes (S. hemitoechus). A pratica totalidade, sao animais que portam na sua cabeça chifres ou apendices corneos equivalentes, a unica excepçao seria a pressença de restos de equido mas em este caso estes reduce-se a um pressença marginal representando unicamente por um fragmento de dente.




Despeço experimental

Para interpretar corretamente os processos de processamento do restos obtidos no nível 3 foi realizada uma experiencia de arqueologia experimental consistente no despeço de vários cadáveres de bovinos utilizando ferramentas líticas similares as do período estudado. Isto permitiu não são compreender a estrutura e marcas deixadas nos restos ósseos senão também permitiu um compreensão mais geral do processo de despeço

Assim a observação do sucedido no processo de removido da mandíbula e processado do crânio para chegar obter a carne, permitiu sacar conclusões sobre a localização de cada fase do abate em um ou outro lugar da cova. Por exemplo o facto de que durante o remoção da mandíbula varias dentes foram desprendidos e a escassez no registo de peças dentarias, maxilares e ossos associados no nível 3 permitiu inferir que este processo não teria sido realizado no interior da cova senão em uma localização exterior.

Este primeiro processado fora da caverna puído estar relacionado com o consumo da carne da cabeça, a línguas e os olhos. Por contra a parte superior do crânio após isto seria deslocado ao interior da cavidade para uma segunda fase de processado, esta estaria relacionada com o acesso ao cérebro dos animais e/ou o trabalhado intencional dos crânios até lhes dar o aspeto no que foram topados. O analise experimental mostrou que o método mais singelo de aceso o cérebro das vitimas era através da rutura dos ossos occipitais do crânio, o qual produção resultados coerentes com a forma e marcas observadas na acumulação de crânios do local. 

A própria divisão geográfica do processado do animal e o tratamento no crânio para a extração do cérebro fora e no interior da cova, remarca a importância de esta ultima fase de tratamento dos resto animais.  De facto o estudo dos grupos de caçadores-coletores atuais amostram que o crânio do animal soe ser frequentemente descartado e não levado de volta para o acampamento.A cabeça e pesada de transportar e proporção relativamente pouco alimento por contraste com outras parte da carcaça do animal com mais contido de carne. 

O qual faz seu transporte pouco útil e da a este ato um importância que se tem que situar além da mera questão de subsistência, e apontar a um função simbólica de esta parte do corpo do animal, o qual se vê reforçado pela própria acumulação intencional e tratamento diferenciado 

Poder-se-ia especular se o próprio acesso e consumo do cérebro pelos caçadores não estaria vinculado a um sistema de crenças e o simbolismo dos animais selecionados, como sucedia no ritual embaixo assinalado do sacrifico do urso ainu.


Paralelos Etnográficos:
Os autores comparam a acumulação intencional de crânios de animais com os modernos troféus de caça vinculados a atividade da caça desportiva que no fundo seria o avatar contemporâneo de uns costumes repetidos entre povos caçadores. Praticas semelhantes de acumulação de troféus são relativamente frequentes entre algumas sociedades de caçadores-coletores. Em estas culturas o crânio do animal adquire uma forte importância vinculada a associações simbólicas. 

Assim os achuar de América do Sul ou os Wola de Nova Guiné guardavam os espólios da caça para formar troféus exibidos publicamente. Em algumas culturas os crânios ou outros ossos que tiverem uma especial significação simbólica eram agrupados para formar de depósitos associados a rituais de caça, considerados por alguns autores como autênticos santuários de caça. 

Estas acumulações e troféus também têm sido associados em alguns exemplos etnográficos com a construção da identidade masculina; este era o caso por exemplo dos Grupos das Terras Baixas de Nova Guiné, ou sido resultado de cerimonias especificas como sucedia com o celebre caso dos Ainu do Japão. Na mesma área do mar do Japão entre o povo Ulita da Ilha de Shakalin os crânios de animais eram depositados em relação com os rituais funerários. Algo que se faz pressente também no Sudeste asiático na representação de bucrânios ou acúmulos de chifres superpostos de búfalo nas tumbas.



Artigo: 

Baquedano, E., Arsuaga, J.L., Pérez-González, A. et al. (2023): "A symbolic Neanderthal accumulation of large herbivore crania" Nat Hum Behav  DOI: 10.1038/s41562-022-01503-7 

Bibliografia complementar: 

Robin, G. (2017): "What Are Bucrania Doing in Tombs? Art and Agency in Neolithic Sardinia and Traditional South-East Asia" EJA Nº 20/4  pp. 603–635  DOI: 10.1017/eaa.2017.12



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