quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Palaeohispanica Nº 22 - 2022

Palaeohispanica Nº 22 - 2022


INDEX


Estudios

Veinte años de Paleohispanística. Análisis bibliométrico e historiográfico de Palaeohispanica (2001-2021) en el contexto de las revistas españolas sobre lenguas y culturas de la Hispania antigua  
pp. 15-46
Manuel Ramírez-Sánchez

Del euskera en la Tardoantigüedad. Expansión a occidente
 y dialectalización  pp. 47-84
Joseba Koldobika Abaitua Odriozola, Mikel Martínez Areta, 
Emiliana Ramos Remedios

Hispani en la milicia urbana de Roma: praetoriani, urbaniciani, 
vigiles y equites singulares pp.85-129
José Ortiz Córdoba

Etimologías Celtibéricas III: el Bronce de Novallas (Z.02.01)
pp. 131-136
David Stifter


Novedades Epigráficas

Dos nuevas téseras celtibéricas de La Custodia (Viana, Navarra) 
pp. 139-160
Javier Armendáriz Martija, Javier Velaza Frías

Dos nuevos sellos de ánforas brindisinas localizados en 
el Bajo Guadalquivir  pp.161-180
Francisco José Blanco Arcos, José María Gutiérrez López, 
María Cristina Reinoso del Río, Antonio M. Sáez Romero

Kuni baika kutan: una inscripción ibérica inédita en un vaso caliciforme de la ciudad cesetana del Vilar (Valls, Tarragona)  pp. 181-204
Joan Ferrer i Jané, Jaume Noguera, Pau Menéndez, Jordi Morer, 
David Asensio, Rafel Jornet, Joan Sanmartí

Correcciones a tres altares votivos del conventus Bracaraugustanus (Hispania Citerior): un nuevo testimonio de la diosa Nabia, el
 castellum Durba y los Dacori, una civitas inédita  pp.205-220
Juan Carlos Olivares Pedreño

Un nuevo epígrafe ibérico con antropónimo latino de Libisosa 
pp. 221-232
Héctor Uroz Rodríguez, Javier Velaza Frías

Una inscripción paleohispánica pintada sobre cerámica hallada
 en Cártama (Málaga) pp. 233-238
Javier Velaza Frías


Chronica Epigraphica

Crónica epigráfica del sudeste III pp.241-250
José A. Correa Rodríguez

Crónica epigráfica del sudoeste VI  pp. 241-254
José Antonio Correa Rodríguez

Chronica Epigraphica Iberica XVI (2019-2021)  pp.255-274
Javier Velaza Frías

Chronica Epigraphica Celtiberica XI  pp. 275-315
Carlos Jordán Cólera

   

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terça-feira, 27 de dezembro de 2022

Um Sacrificio no Pântano



Os ossos de uma possível vítima de um sacrifício humano durante o Neolítico foram encontrados em um pântano 
em Egedal na Dinamarca



Arqueólogos do Museu de Roskilde (ROMU) Descobriram os restos de um esqueleto antigo corresponde ao que soe chamar “corpos do pântano” na Dinamarca perto dos restos de um machado de lítico e vários ossos de animais e cerâmicas, pistas que sugerem que essa pessoa foi sacrificada ritualmente há mais de 5.000 anos.

Pouco se sabe até agora sobre a suposta vítima, inclusive o sexo da pessoa e a idade na hora da morte. Mas os pesquisadores acham que o corpo foi deliberadamente colocado no pântano durante o Neolítico. "Essa é a fase inicial do Neolítico dinamarquês", disse o diretor da escavação Emil Struve, arqueólogo e conservador do ROMU. "Sabemos que as tradições sobre sacrifícios humanos datam de tão longe como isto, temos outros exemplos disso."

Dezenas de corpos dos chamados pântanos foram encontrados em todo o Noroeste da Europa, particularmente na Dinamarca, Alemanha, Holanda e Grã-Bretanha, onde sacrifícios humanos em pântanos parecem ter persistido por vários milhares de anos:“Em nossa área aqui, temos vários corpos de pântano diferentes” -disse Struve- "É uma tradição contínua que remonta ao Neolítico."

Ossos antigos

A equipe arqueológica da ROMU encontrou o último conjunto de ossos em outubro, antes da construção de um conjunto habitacional. O local, que agora foi drenado, era um pântano perto da cidade de Stenløse, na grande ilha da Zelândia e a noroeste da capital dinamarquesa, Copenhague. A lei dinamarquesa exige que os arqueólogos examinem todos os terrenos antes de serem construídos, e os primeiros ossos do corpo do pântano de Stenløse foram encontrados durante uma escavação teste no local, disse Struve.

Os arqueólogos vão agora escavar completamente o local na primavera, quando o solo se desgele após o inverno. As escavações iniciais revelaram os restos dos ossos de uma perna, uma pélvis e parte de um maxilar inferior com alguns dentes ainda presos. Outras partes do corpo possivelmente quedaram fora da camada protetora de turfa do pântano e não foram preservadas, observou.

Struve espera que o sexo do corpo possa ser determinado com base na pelve e que o desgaste dos dentes possa indicar a idade do indivíduo. Além disso, os dentes podem prover restos de DNA antigo, o qual pode revelar ainda mais sobre a identidade da pessoa.

Os Corpos do pântano

Struve disse que a cabeça do machado de sílex encontrada perto do corpo não foi polida depois de feita e pode nunca ter sido usada, então parece provável que isso também tenha sido uma oferenda deliberada. O estilo da machada permite situar a sua cronologia entorno a 3600 a.C.

Pantano de Grøftebjerg onde o home de Kolbjerg foi topado

O corpo do pântano mais antigo do mundo, conhecido como Homem de Koelbjerg, foi encontrado na Dinamarca na década de 1940 e pode datar de 10.000 anos atrás, enquanto outros datam da Idade do Ferro, de cerca de 2.500 anos atrás. Um dos corpos de pântano mais famosos e mais bem preservados é o do Homem de Tollund, que foi topado na Península da Jutlândia (Dinamarca) no 1950 e acredita-se que foi sido sacrificado por volta do 400 a.C. Alguns dos corpos do pântano parecem ter sido vítimas de acidentes que se afogaram depois de cair na água, mas os arqueólogos acham que a maioria foi morta deliberadamente, possivelmente como sacrifícios humanos em tempos de fome ou outros desastres.

Home de Tollund

Miranda Aldhouse-Green, professora emérita de história, arqueologia e religião na Universidade de Cardiff, autora de vários livros sobre o tema entre eles "Bodies Uncovered: Solving Europe's Ancient Mystery" (2015), disse que os povos antigos provavelmente estavam bem cientes de que os pântanos poderiam preservar os corpos: "Se você colocasse um corpo no pântano, ele não se decomporia - ficaria entre os mundos dos vivos e dos mortos".

Fonte: Live Science



segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

COMPLUTUM Nº 33/2 - 2022


COMPLUTUM Nº 33/2 - 2022


INDEX

Tradiciones gráficas e interacción cultural: arte mueble paleolítico 
del interior peninsular pp. 307-328
Álvaro Ibero

La representación de las mujeres levantinas en el conjunto rupestre de la Roca de los Moros del Cogul (El Cogul, Lleida) desde una perspectiva feminista  pp. 329-346
María Cacheda Pérez

Identification of organic material in Los Buitres 1 rock art shelter, Badajoz, Spain.  pp. 347-361
Sara Garcês, Hipólito Collado, Pierluigi Rosina, Hugo Gomes,
 George Nash, Maria Nicoli, Carmela Vaccaro

La cerámica del Neolítico antiguo de la Cueva de los Murciélagos
 de Zuheros pp. 363-387
Daniel García Rivero, Patricia Virino Gabella, Ruth Taylor, David López Carmona, Beatriz Gavilán Ceballos, Martí Mas Cornellà

Agricultura y control social: de la tendencia al monocultivo a la diversidad agrícola en el Argar pp. 389-409
Adrián Mora-González, Francisco Javier Jover Maestre, Francisco Contreras Cortés, Juan Antonio López Padilla

El conjunto de las esculturas ibéricas de La Cervera
 (La Font de la Figuera, Valencia) pp. 411-431
Jaime Vives-Ferrándiz Sánchez, Isabel Izquierdo Peraile, David López Serrano, Ana Valero Climent

El diablo está en los detalles: nuevos datos arquitectónicos y contextuales para el pilar-estela de El Prado (Jumilla, Murcia)  
pp. 433-454
Jesús Robles Moreno

Paisajes monumentales: análisis espacial del dispositivo amurallado
 del castro de Baroña (Porto do Son, A Coruña)  pp. 455-479
Rodrigo González-Camino, David González-Álvarez

El depósito ritual de la Edad del Hierro de la cueva del Aspio
 (Ruesga, Cantabria) pp. 481-505
Rafael Bolado del Castillo, Jesús Tapia Sagarna, Oriol López-Bultó, Leonor Peña Chocarro, Inés López Dóriga, Marián Cueto Rapado, 
Enrique Gutiérrez Cuenca, José Ángel Hierro Gárate, Miriam Cubas,
 Pablo Pérez Vidiella

Las “Peñas Sacras” de la Península Ibérica pp. 507-542
Martín Almagro-Gorbea

La imitación como categoría de análisis en ceramología 
protohistórica y clásica  pp. 543-563
Andrés María Adroher Auroux, Maite Segura García

Noticias y Reseñas

Díaz-del-Río, P., Lillios, K. y Sastre, I. Eds. (2020): The Matter of Prehistory: Papers in Honor of Antonio Gilman Guillén. Madrid, CSIC (Bibliotheca Praehistorica Hispana, XXXV pp. I565-569
Gonzalo Ruiz Zapatero

M. Krueger / V. Moreno Megías (Eds.), The Iberian Peninsula in the Iron Age trhough Pottery Studies, Access Archaeology, Oxford 2022
pp. 571-573
Raimon Graells i Fabregat



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domingo, 25 de dezembro de 2022

Uma (Pré-) História Natalícia - O Pai Natal


Sendo impossível, em certa forma, o subtrair-se ao contexto de esta época na que estamos. E embora as circunstancias pessoais de este Archeoten que vos escreve não sejam as mais adequadas, nem boas, para celebrar nada, não quero -a pesar dos meus pesares- deixar-vos de desejar-vos a toda a paróquia do Archaeoethnologica e de todo coração um Bom Natal, Hanuka, ou simplesmente Felizes Festas (em geral para os laicos) assim  como um Bom Ano para todos. Algo que depois de estes anos convulsos e confusos -ainda não rematados- é-nos muito necessário, e nunca bem tampouco de mais

Em este sentido sendo que manha muitos fogares acordaram pela manhã, com a tradição de abrir os regalos de esta noite, nas diversas variantes com que a tradição se reveste em toda a Europa e além, desde o bruxa italiana Befana, aos carvoeiros míticos ou personagens tisnados de cinza vários (como o Olenztero basco, ou galego Pandigueiro ou Apalpador) do folclores europeu, ou já sob a fascia o mais globalizada do St Claus/Pai Natal. Ê um bom momento para deixar-vos aqui este pequeno documentário ao respeito

Trata-se da versão espanhola (infelizmente não topei a original) do documentário francês Qui veut brûler le Père Noël? "Quem quer queimar o Papai Noel?" dos realizadores  Julien Boustani, Axel Clevenot o qual foi traduzido ao castelhano com um mais convencional titulo: "A Verdadeira História do Pai Natal".  

o Père Noël executado em efígie no ano 1951 diante da porta da Catedral de Santo Benedito de Dijon 

O titulo faz referencia a uma anecdota ocorrida em França na cidade de Dijom no ano 1951 no que o Pai Natalfoi oficial queimado a instancias do párroco local diante da igreja catedral católica da Cidade, como critica ao suposto paganismo e anti-cristiandade de dita figura. 

Partindo de esta anedota o filme oferece um repasso pela historia da Pai Natal, não, isento de algum excesso interpretativo em sue inicio, sobre tudo na parte que se refere a pré-história ré-cristã da celebre figura natalícia; algumas afirmações sobre Odhin como "proto-Pai Natal" são abundo mais que discutíveis (vid. embaixo sob a "re-paganização")

O filme amostra a origem e evolução da figura no imaginário europeu, passando desde o original santo grego, e a difusão de seu culto na Europa Medieval, assim como as suas transformações o ambivalente da sua presença em distintos períodos históricos: desde a modernidade a contemporaneidade. Permite-nos ademais uma infrequente oportunidade de ver ao historiador John Scheid, falando não da religião romana senão das suas lembranças infantis do Natal, como menino luxemburguês. 

A incómoda presença dum bispo St Nicolau demasiado católico durante a Reforma: um paganizante e burlesco St Nicholaus acompanha Pontífice Romano identificado com a Besta do Apocalipse

O documentário apresenta uma interessante perspetiva a este respeito da o que em termos "howsband-rangelianos" chamaríamos a "invenção da tradição", no que se mostra os distintos avatares das figura festiva de estea personagem no Imaginário desde múltiplos aspetos: Tanto as controversas relações com a ortodoxia religiosa, já for católica ou protestante, assim como os diversos fatores políticos que configuraram e reformulam a sua figura em distintos períodos históricos. 

A "domesticação" do Natal como festa familiar e intima na cultura burguesa contemporânea frente as "selvagens" outras modalidades natalícias dissonantes com esse valores

Como na América do XIX onde o natal e reconvertido para expressar no contexto estadounidénse os valores da família burguesa, e servir mesmo de contra-imagem identitária frente aos costumes "bárbaros" em estas datas dos emigrantes de outros países não-anglo-saxões (nem W.A.S.P), cada vez mais números durante essa época. Ou ainda intentos de utilização politica mais diretos como durante a Guerra de Secessão dos EE.UU ou por parte dos regímenes fascista dos nazis ou da Rússia soviética durante os anos 20 do século passado e a II Guerra Mundial. 

o Apalpadador vs. St. Claus, Galicola vs Coca-cola, ou a conflitual realidade da nossa glolocalidade atual

Também reflexiona sobre as distintas formas de macdonalização da figura do velho arquétipo europeu e como nestes tempos de agnosticismo se produz uma nova reinvenção exegética: secularizada ou bem re-paganizaçada, ou mesmo de re-nativizaçada, através da recuperação e/ou generalização de figuras locais similares em distintos lugares: um caso claro ao respeto na Galiza é da recuperação e promoção do Apalpador próprio da zona de O Courel a tudo o território galego como figura alternativa ao globalista Papa Noel/St. Claus

Algo especialmente interessante ao respeito e que frente a imagem dulcificada do Pai Natal atual o documentário não esquece alguns carateres mais inquietantes da figura tradicional como sua dobre natureza, não apenas como oferidor de prémios senão como punidor das crianças que fazem mal. 

o São Nicolas versão "Punisher" da zona flamenca da Europa

Já fora por mão própria ou a través de figuras sinistras como o Pedro o Preto neerlandês ou o figura germana do Krampus raptor de meninos/as, uma espécie de "Homem da Saca" demoníaco que sai nestas datas apanhar aos meninos que se portaram mal durante o ano.

"O Terror do Krampus" figura típica destas datas na Centro-Europa

Companhias monstruosas do Pai Natal que remitem a figuras como as das distintas mascaradas de Natal Alpinas ou datas próximas, que não deixam de ser mais que outro avatar das velhas mascaradas do ciclo invernal, como já observara o arqueólogo e historiador das religiões Martin P. Nilsson, em um interessante e extenso artigo intitulado "Studien zur Vorgeschichte des Weihnachtsfestes" , no que abandonado o seu âmbito de especialização usual na Grécia Antiga e Proto-histórica, investigava a pré-história antiga das costumes natalícias do folclore europeu

Les dangerous liassons do Pai Natal e o Krampus: O Krampus arrastando aos crianças pecadoras as chamas do Inferno; Krampus punindo a zorregada limpa com o seu ramalho a um adulto ante a bendição aquiescente do santo bispo Nicolas; o Krampus raptor de crianças e guardião da moralidade sexual

Especialmente conhecidas são as figuras monstrossas carnavelesco-natalicias com formas ussualmente demoniacas ou de besta selvagens que povoam este periodo do ano  na zona Alpina (Baviera, Alpes Suiços e Austria).

O Bispo Nicolas com seu cortelhol; a Nikoloweibl "A Nicolasa" -literalmente o Nicolau fêmea- figura feminina paredro do bispo, e os os demoníacos Buttnmadl "homens de palha"

As relações entre elas e o velho Klaus são diversas, desde uma separação clara entre ambas duas entidades, a uma evidente união solidária como acontece com os monstruosos Kramperl e Buttnmandl ("Homens de Palha") que processionam acompanhando ao Bisco St Nikolaus de brancas e longas barbas na localidade bávara de Berchtesgaden. 

Outras figura embora fiquem independentes do Santo Bispo grego, conservaram algum aspeto ou pegada da sua associação a ele, como sucede com o transparente nome de os Klausen (os Klauses, e dizer "Nicolasinhos") que levam estes demos do selvagem no povo de Oberstdorf, localidade sita também na Bavária alpina.

"A chegada dos Klausen", os demoníacos espíritos do selvagem retornam com o Inverno cada ano a Oberstdorf

Por certo. a parte de Klauses, Krampuses e outras mascaras e demos outra coisa que dizem as tradições germanas que sai o dia a noite do 25, e voltam a sair rigorosamente todas as noites os 12 dias após o dia de Fim de Ano (Silvanus Tag) são os lobisomens (algo sobre estes aqui). 

Espero não ter-vos atemorizado nem inquietado demais com esta postagem natalícia, melhor não penseis em noturnos visitantes, deixa-nos trabalhar. Felizes sonos, e Bom Natal e um próspero Ano Novo cheio de saúde e bons desejos para todos da parte de este vosso Archeoten.


Algo de Bibliografia: 

Caro Baroja, J. (2006) [1979]: El Carnaval. Analisis histórico-cultural. Alianza editorial. Madrid. 1ª edição consultável no Internet Archive aqui

Campo Tejedor, A. Del (2020): Historia de la Navidad. El nacimiento del goce festivo en el Cristianismo.  El Paseo editorial. Sevilha. vid. informação aqui

Hosbawn, E. & Rangel, T. (edits.) (1983):   The Invention of tradition. Cambridge University Press, Cambridge. Consultavel no  Internet Archive aqui

Lôpez Gonçâlez, J.A. (s.d): "O Apalpador, personagem mítico do Natal galego a resgate" disponivel em Portal Galego da Lingua  PDF

Nilsson, M. P. (1916-19): "Studien zur Vorgeschichte des Weihnachtsfestes". ARW Vol. XIX pp. 50-150 PDF


Um Conto de Natal do Krampus


sábado, 24 de dezembro de 2022

Arqueologia dos Parisios - Palestra


Aproveitámos para deixar aqui o vídeo de esta palestra proferida pelo arqueólogo Thierry Lejars é investigador do CNRS e membro da unidade de pesquisa mista "Arqueologia e Filologia do Oriente e do Ocidente" da École Normale Supérieure sobre o povo gaules dos parisii.

Descoberta no final da década de 1990, a necrópole de Roissy (Val-d'Oise) é, com seus dois túmulos de carruagens e seus objetos de arte, um dos principais locais de conhecimento dos Parisii, o povo gaulês da segunda idade .du Fer, cuja principal fortaleza era Lutèce e controlava o curso médio do Sena, entre a Gália belga ao norte e a celta ao sul. 

A qualidade e originalidade dos bronzes ornamentados desenterrados também o tornam um local de primordial importância para o estudo da arte celta e da civilização no seu conjunto. Esta necrópole e sítios contemporâneos semelhantes (Le Plessis-Gassot, Bouqueval, Gonesse, Nanterre, Bobigny, Saint-Maur-des-Fossés, etc.) colocam o problema da origem dos Parisii e inauguram um período de mudança marcado por transformações radicais tanto do ponto de vista social quanto econômico.





sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

A Mão de Irulegi - Palestra

A última sexta-feira, 16 de dezembro, a Mão de Irulegi foi exposta aos moradores do Vale de Aranguren onde se topa o assentamento no que foi localizada. 

Além disso, com motivo de isto proferiu-se uma charla palestra por parte do equipo de arqueólogos ocupados da intervenção arqueológica no jazigo assim como de Joaquin Gorrochategui, catedrático de linguística da Universidade do Pais Vasco. 

A palestra tem por fim explicar os achádegos, avaliar a sua importância e transcendência, e esclarecer dúvidas sobre todas as questões relacionadas com o jazigo da Idade do Ferro escavado em Irulegi, algo muito necessário dado o ruído mediático e interesse geral gerado a raiz da saída a luz pública da descoberta da célebre mão epigrafada. 

      

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Deuses, Mobilidades e Imaginários - Livro


Naming and Mapping the Gods in the Ancient Mediterranean


Corinne Bonnet, C., Galoppin, T., Guillon, E., Luaces, M., Lätzer-Lasar, A. Lebreton, S., Porzia, F., Jörg Rüpke. J. & Rubens Urciuoli, E. (2022): Naming and Mapping the Gods in the Ancient Mediterranean. Spaces, Mobilities, Imaginaries. Walter de Gruyter. Berlim. ISBN: 978-3-11-079649-0 DOI: 10.1515/9783110798432


Sinopse: 
As religiões antigas são definitivamente sistemas complexos de divindades, que resistem à nossa compreensão. Os nomes divinos fornecem chaves fundamentais para obter acesso às múltiplas maneiras nas quais os deuses foram concebidos, caracterizados e organizados dentro do imaginário dos povos antigos. Dentre os nomes dados aos deuses, muitos deles se referem a espaços: cidades, paisagens, santuários, casas ou elementos cósmicos.

vista aérea do Dedalion  da Ilha de Paros

Eles reflectem mapas mentais que precisam ser explorados para obter novos conhecimentos sobre a estrutura dos panteões e agir humano na sua dimensão cultual. Ao considerar a interdição entre onomástica divina e mapeamento, este livro abre novas perspectivas sobre o papel que a tradição e a inovação, a apropriação e a criação jogam na construção de religiões politeístas e monoteístas na Antiguidade

relevo de Neon Phareron circa 400 a.C, Museu Nacional de Atenas

Longe de ficar confinados nos santuários, os deuses, de facto, habitam de múltiplas maneiras em ambientes humanos. Eles se movem em espaços imaginários ou exploram o cosmos. Ao propor um novo ângulo de abordagem interdisciplinar, que envolve textos, imagens, dados espaciais e arqueológicos, este livro lança luz sobre as práticas rituais e representações da divindade no conjunto do mundo Mediterrâneo, da Itália à Mesopotâmia, da Grécia ao Norte da África e Egipto. 

estela do tophet de Sulcis (Sardenha)

Nomes e espaços que permitem melhor definir, diferenciar e conectar aos deuses entre eles e com o ser humano.

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quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Armas votivas na Sicília - Livro

Armi Votive in Sicilia

Scarci, A.,·Graells i Fabregat, R. & Longo, F. (eds.) (2022): Armi Votive in Sicilia.  Atti del Convegno Internazionale di Studi Siracusa Palazzolo Acreide 12-13 Novembre 2021. Römisch-Germanischen Zentralmuseums. Maguncia.  ISBN: 978-3-88467-359-1  DOI: 10.11588/propylaeum.1127


Sinopse:
O volume reúne as contribuições apresentadas na conferência “Armas votivas na Sicília”, realizada em Siracusa (Museu Arqueológico Regional Paolo Orsi) e no Palazzolo Acreide (se da Câmara Municipal) em novembro de 2021. 

O presente volume dá continuidade ao projeto iniciado com a conferência "Armi votive in Magna Grécia" (Salerno-Paestum 2017) do qual representa uma "segunda etapa,” combinando uma ambiciosa análise histórico-arqueológica do fenómeno oferenda de armas em clave diacrónica e intercultural.

As quinze contribuições que formam o volume marcam uma viragem no conhecimento não apenas da ilha senão também para uma melhor compreensão da variabilidade e complexidade desta particular prática votiva, que sublinha o destacado papel que guerra teve na Antiguidade.

A obra contém ainda uma reflexão que vai para além da ilha e sintetiza uma forma de estudar um repertório complexo (armas votivas e armas em contexto votivo) e indica os desafios que a investigação terá de enfrentar no futuro imediato. 

O leitor encontrará pois importante contribuições sobre as quais seguir construindo o discurso sobre a dedicação de armas na Sicília e no âmbito Mediterrâneo antigo em geral.


    
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terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Rituais Indo-Europeus do Lume - Livro

Indo-European Fire Rituals 

Cattle and Cultivation, Cremation and Cosmogony

Kaliff, A. & Terje Oestigaard, T. (2023): Indo-European Fire Rituals: Cattle and Cultivation, Cremation and Cosmogony. Routledge. Londres. ISBN: ISBN: 978-1-032-29293-9 DOI: 10.4324/9781003300915
  

Sinopse: 
Rituais de fogo indo-europeus é um estudo comparativo dos rituais de fogo indo-europeus do folclore moderno e etnografia na Escandinávia e material arqueológico na Europa desde a Idade do Bronze até as origens védicas do cosmos na Índia e as cremações de hoje em piras abertas no hinduísmo.

Explorando os rituais e sacrifícios de fogo indo-europeus ao longo da história e o fogo em seu papel fundamental em ritos e práticas religiosas, este livro analisa os rituais de fogo como estrutura unificadora no tempo e no espaço nas culturas indo-européias da Idade do Bronze em diante. Ele faz a pergunta como e por que o fogo era o poder supremo na cultura e na cosmologia? O fogo como agente e divindade era fundamental em todos os grandes sacrifícios.

Na Europa, os fogos rituais relacionados com a agricultura e a fertilidade também podem explicar o enigma da cremação. Restos cremados eram moídos e usados em rituais de fertilidade, e os fogos ancestrais desempenhavam um papel essencial na metalurgia e na criação do cosmos. Assim, o papel dos rituais de fogo na cultura e na cosmologia permite uma compreensão única dos processos históricos de desenvolvimento.

Para estudantes e acadêmicos que estudam a história da cultura indo-européia a partir da Idade do Bronze, este livro tem um amplo público interdisciplinar, incluindo arqueologia, etnografia, folclore, religião e estudos indo-europeus.


INDEX   

Preface

1. Fire rituals and the Indo-European heritage

2. Hearts in hearths: Ancestors and deities

3. Seasonality and fire festivals

4. Cremation and cultivation in the North

5. Fires from heaven: The links between East and West

6. The Indo-Iranian culture and its rituals of fire

7. Cremation, sacrifice and cosmogony in Hinduism

References



+INFO sobre o livro em:  Indo-European Fire Rituals

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Cães, Lobos e Guerreiros - Berserkeres bálticos ?

Num artigo recente KazanskiMastykova (2022) chamam a atenção sobre uma serie de enterramentos pertencentes a cultura de Sambia-Natangia do Báltico, cultura que se soe relacionar como os povo bálto que as fontes escritas denomiaram estianos que figura nas fonte. Em concreto em dois enterramentos: um da necrópoles de Dolkheim-Kovrovo e outro da Kleinheide-Guryevsk, datados na época das migrações barbaras, foram topados depositados junto aos defuntos cães. 

divissões tribais dos Antigos Prussianos s. XIII

A presença de este animal nos ritos funerário entre os sambiano-natangianos é algo extremadamente raro neste período pelo que os autores propõem relacionar este tipo de enterramentos com influência do mundo germânico, onde a pratica deposição de canídeos resulta mais corrente no tempo das Invasões barbaras assim como já mais tarde durante a Alta Idade Media.  



Estes e infrequentes enterros com cães têm sido vinculados com o culto germânico a Wotan/Odhin ou com reminiscência de tradições célticas no sul do Báltico através chamada Cultura de  Przeworsk identificada com o povo dos lougoi ou lugiones, povo de origem céltico mas já fortemente germanizado durante o período romano da Idade do Ferro pelo contacto com seus vizinhos suevos e alamanos. A confederação dos lugios chegara se estender até a zona de Mazóvia, fazendo fronteira pelo sul com o território dos Boios na actual Boémia.

extensão geográfica máxima da Cultura de  Przeworsk

No enterro de Dollkeim-Kovrov figuravam os restos de um cremação de um indivíduo junto com fragmentos cerâmicos da urna funerária, derriba da qual fora depositado um cão de 1 ano. Também se topara uma ponta de lança e dois remates metálicos em ponta pertencentes a um cinto. O escavador da tumba mesmo chegou a interpretar que o cinto fora ser utilizado mesmo para esganar o animal antes de deitar seu cadáver na cova. A tipologia do cinto pertence a um tipo estendido por boa parte do Barbaricum (dos Urais e Britânia, e especialmente o Este de Europa e zona Danubiana) e aponta a uma cronologia de entre finais s. IV primeira metade do V d.C.

Espolio funerario das tumbas 21 de Kleinheide-Guryevsk e 269 de Dollkeim-Kovrov

Na tumba de Kleinheide-Guryevsk, datado no inicio do século V. d.C. figuravam os restos cremados de pelo menos três indivíduos e um cachorro, todos eles recolhidos não em uma urna senão em uma caixa de madeira.  Esta presença de cães entre os baltos faz-se extremadamente exótica se notamos a sua quase total ausência entre os outros povos contemporâneos de este grupo étnico-cultural. 

enterramento nº 46 da necropole de Bratislava-Rusovce

Apenas se observam em Lituânia enterramentos com cães mas num período muito mais tardio e vinculado a influencia vikinge já, prolongando-se logo ate finais da Idade Media. Assim o príncipe lituano Kęstutis fora cremado em 1382 junto com vários cavalos, pássaros e cães. Uma multiple sacrificio que recorda na sua fastuosidade ao da tumba Rickeby na Suecia. Em estes casos parece vincular-se o sacrifício de  animais com o status do defunto que é recebente de tales oferendas. 

Distribuição dos enterramentos com cão durante os s. V e inícios do VI segundo Prummel (1992)

Entre os eslavos próximos  não aparecem enterros nos que figurem cães, nem nenhum outro animal. Embora dentro do âmbito germânico, como já se disse, os enterros com canídeos são bem conhecidos e frequentes, tanto entre entre os Anglo-saxões como entre os germanos continentais. O costume é especialmente evidente durante o período merovíngio sobre tudo entre entre Francos, Turingios, Alamanes,  saxões e lombardos

enterramentos lombardos com cães

sendo que durante a época carolíngia cessa esta pratica. Facto que tal vez se tenha que vincular com as Campanhas de Carlomagno contra os Saxões e a conversão forçosa das tribos alemãs, que isto levou aparelhado, assim como a nova vinculação que se estabelece a partir de então entre a monarquia franca e a igreja. Se vem poderíamos pensar que quem sabe se parte de esta associação funerária não puído subsistir apenas como esquevomorfo na mentalidade posterior baixo a representação figurada do cães como acompanhante aos pés do cavaleiro nos sarcófagos medievais, nos que é interpretado como símbolo de fidelidade.  

Sarcofago de Fernão Peres de Andrade na Igreja de St Francisco de Betanços; pormenor de "A Lealdade do Cao, Requiescar" do pintor Briton Rivière (1888))

Na zona Escandinávia foram igualmente testemunhados enterramentos com caos durante o mesmo período (s. V-VIII) e sobre tudo já durante a época viking. Na escandinava predominam os enterros com cães junto ao ritual de cremação durante o período vendel (pré-viking), mas focados geograficamente num inicio na zona Central da Suécia, posteriormente expandidos também a zonas mais ao Norte como  Finlândia. Embora durante a época das migrações no entanto apenas se testemunhou um único enterramento com canídeo junto a um defunto.

restos de canídeos da necrópole  Valsgärde (Uppland, Suecia) 

Tudo parece indicar que não foi precisamente ate a fase Vendel (550-793), sobre tudo a meados do  s. VI, que se estendeu o ritual de enterramento com cães, predominando em ele  as cremações, ainda que  sem exclusividade na associação, sendo possível também topar canídeos junto a cadáveres inumados. Não há esquecer que durante o período vendeliano a Suécia teve importantes relações comerciais e contactos com a zona centro-europeia tanto merovíngia como saxã. 

reconstrução de um enterro de um chefe vendeliano da necrópole de Rickeby (Vallentuna, Uppland)

Ao mesmo tempo no oriente de Europa parece ter-se difundido o costume do enterramento com cães, aparecendo não apenas entre indivíduos varões senão também em algumas ocasiões entre mulheres, como no caso de uma tumba do s. XIII de Plotiste (Chequia) no que figuram cremadas 3 mulheres e um cão, ou de uma tumba de ou Illington (Inglaterra) onde apareceu cremado um bebe junto com um cachorro. No entanto a cremação parece retroceder frente a uma tendência maioritária a inumação.

Na maioria das vezes, os cães são enterrados um a um, geralmente acompanhando uma única pessoa, embora, como já vimos, haja exceções, e em ocasiões se enterrem vários indivíduos com um mesmo cachorro, o qual coincide com padrão observado em Dollkeim-Kovrovo era muito frequente. Ainda que apareçam em ocasiões enterros de cães associados a mulheres e meninos (nos quais podaríamos supor uma questão de status adscrito) o mais frequente e que este ritual se vincule prioritariamente a enterramentos masculinos, que normalmente soem também conter armas e itens de prestígio, como espadas. No século V e VI este tipo de enterramentos soem concentrar-se na zona de expansão e povoamento dos lombardos (entre o Alto Elba e o Danúbio) e na área merovíngia sobre tudo no Norte na cunca do Reno. 


Anteriormente se testemunham na zona danubiana e em Polónia enterramentos isolados de cães aos que se deu um sentido sacrificial ou simbólico como “guardiães” de um determinado espaço, o qual recorda alguns rituais de fundação da Idade do Ferro e da Antiguidade assim como ao atual folclore inglês sobre o Grim da Igreja, um cão negro sobrenatural protetor de cemitérios, que  se cria era o espírito de um cão sacrificado durante a construção do campo-santo para servir de guardião dos mortos, ou mesmo podemos pensar também em aquele mais clássico Cão Cerveiro vigia das portas do Além 

Enterramentos de este tipo são conhecidos também em assentamentos como  em santuários da região do  norte do Mar Negro. Também haveria que assinalar a presença de enterramentos com cães na Gália romana, ou a presencia de cães associados ao culto de algumas divindades célticas como Nodons ou Apolo Cunomaglos. 

Nos enterramentos do âmbito germânico dominam enterros com armas como scramaxes e lanças, ao igual que topamos nas tumbas Kleinheide-Guryevsk e Dollkaim-Kovrov. É difícil dizer se a presença das armas pretendia enfatizar a pertença do falecido a uma determinada casta/estrato militar, mas parece que a presença de cães nestas sepulturas deve ser considerada também do ponto de vista do "caráter militar" de estas tumbas

Elementos de distintos enterramentos elitares: objetos metálicos dos enterramentos nº 1 de Warnikam-Pervomaiskoe e Nº 2 de Apahida; expoliu do enterramento nº 280 de Dollkeim-Kovrov

É bem conhecido o tema da sociedades guerreiras do mundo indo-europeu e germânico, e de como seus membros podiam metamorfosear-se e/ou adquirir as características do lobo e outros animais selvagens, ao entrar em êxtase durante os seus rituais guerreiros. Igualmente lobisomens são bem conhecidos no folclore de vários povos europeus, Olao Magno no século XVI evidencia  crenças de este tipo para a Prússia, Lituânia e a Livónia bálticas, onde ainda se testemunham rituais peculiares relacionados como o folclore de estes seres como o celebre caso do Velho Thiess, lobishome processado pela inquisição, que tão bem foi estudado pelo historiador italiano Carlo Ginzburg

Lobisomem devorando uma mulher, gravado s. XIX da Coleção Mansell (Londres); um monge irlandes alimentando a uns lobisomens de Ossory, Gerardo de Gales, Topographia Hibernica, circa 1200

Mas não é este o momento para nos deter no inesgotável acerbo do folclore sobre lobisomens no contexto euro-asiático (a própria Galiza e Portugal dariam adonde de por sim sozinhas apenas) pelo que melhor voltemos aos guerreiros lobos germânicos. Estes eram chamados em época  berserkers  “peles de osso” também conhecidos por ulfebrand “peles de lobo". Segundo fontes escandinavas, estes guerreiros lobos/ursos eram frequentemente incluídos nos séquitos de líderes militares (comitatus), constituindo um grupo à parte, devido à sua natureza altamente agressiva e muitas vezes incontrolável. Durante seus ataques de fúria, estes não podiam ser feridos pelas armas, viravam em animais e mesmo mordiam com os dentes seus escudos ao não poder conter seu furor assassino

Figura de xadrez normando do s. XII topado na Ilha de Lewis interpretando como um berserker mordendo seu escudo, recriação visual do artista Johnny Shumate

Além da escandinavia também habia “lobos/cães-guerreiros” entre outras tribos germânicas, como evidencia Paulo Diacono entre os lombardos, que figuravam nas sua tropas a existencia de guerreiros com cabeça de cão (Hist. Long, I, 11), o qual aparente descreve o usso de máscaras de cachorro, similares ao heraldo de pele de lobo que os romanos toparam entre os celtiberos ao assediar Segeda ou aos bersekhir escandinavos. O próprio nome antigo dos lombardos Vinnili segundo Samson poderia ter o significado original de os "cães loucos", o qual nos levaria ao ámbito da fúria guerreira incontível dos guerreiros-lobo. 

desenho de guerreiro-lobo da placa de Toorslunda; e recriação do artista Johnny Shumate

É bem conhecida a quase sinonímia entre o lobo e o cão entre distintos povos indo-europeus e a sua vinculação a figura do guerreiro sendo que algumas línguas como o irlandês usam o mesmo termo cu- para o cão e o lobo indistintamente. Tal vez a menção mais antiga de lobisomens na Europa Oriental esteja contida na história de Heródoto. ao referir-se aos neuros, povo identificado como proto-eslavo (ou balto-eslavo) e que se soe associar a cultura de Podgortsevo-Milograf de inícios do Ferro: 

    “Essas pessoas, aparentemente, lobisomens. Afinal, os citas e helenos que vivem na Cítia dizem que uma vez por ano cada Neuros se torna um lobo por vários dias e depois retorna ao seu estado anterior novamente” (Herod. Hist, IV.105). 

a loucura das mascaradas animais de inverno, foto Charles Fréger

Sobre este ritual dos neuros tem-se especulado que ao igual que a licantropia temporária dos arcádios no os culto de Zeus Likeo ("Lobo"), poderia ter um significado de ritual de passo. O ritual e descrito por vários autores antigos como segue: 

    "Evantes, o qual merece credito entre os autores da Grécia, escreve que os arcádios conta que um da família dum tal Anto, elegido a sortes entre o povo foi levado a uma lagoa da região, e trás pendurar seus vestidos em uma azinheira, vota-se a nadar e se vai a paragens ermos e transformando-se lá em lobo se une com outros da mesma espécie durante nove anos. E acrescentam que, sempre que se afaste dos homens, volve a mesma lagoa e após cruza-la recobra sua forma humana, engadindo a seu aspeto os nove anos de velhice, e mesmo recupera a própria roupa que lá deixara" (Plinio, N.H. VIII.34)

Dolon O Lobo, leythos ático de figuras vermelhas circa 460 a.C, Museu do Louvre

"Varrão [...] relata não menos incidíveis [...] e também sobre arcádios que, trás vota-lo a sortes, cruzavam a nado uma poça e na outra beira tornavam lobos e viviam entre as bestas em lugares solitários da região. Mas se não comiam carne humana, após cruzar ao cabo de nove anos, recuperavam sua forma humana. Mesmo este autor mencionou que um tal Demeneto que participou no sacrifício de um jovem os arcádios levaram a cabo em honor do Zeus Liceu, se transformou em lobo. Aos dez anos recuperou a sua forma própria e treinou no boxeio, conseguindo vencer nos jogos olímpicos." (Agust. C.D. XVIII. 17)

Santuário do Monte Liceu (Arcádia)

Em este sentido é interessante por como contraexemplo a comparação com a história de transformação lobuna que dentro do Ciclo dos Volsungos/Nibelungos sofrem os os heróis Sigmund e Sinfjötli (pai e filho) durante a educação como guerreiro do mais jovem de eles: 

"Um dia mentes caminhavam pela bosque em busca de presas, toparam uma morada, na qual durmiam dois homens com grandes braçais de ouro. Eram vítimas de uma triste fada, pois sobre suas cabeças penduravam peles de lobo, que podiam quitar-se apenas um de cada dez dias. Ambos eram filhos de rei. Signmund e Sinjtöldi colheram as peles e as pusera, mas como não perderam seu encanto, não puderam jà tira-las de sim. Os dois empeçaram a ouvear como lobos, mas ambos dois compreendiam o sentido do ouvear do outro. 

Se adentraram na fraga, e cada um tomou um caminho. Mas antes de separar-se combinaram em que atacariam apenas se viam sete homens, nem um mais, e que se um estava em perigo ouvearia forte [...] Sinfjötli encontrou-se com 11 homens, os atacou e consegui mata-los a todos

Fotograma do filme O Home do Norte (2022)

[...] Traz de isto se dirigiram a uma fossa e permaneceram lá até que puderam quitar as peles de lobo. A colheram e tiraram com elas ao fogo para que não voltaram danar a ninguém. Sob esse monstruoso disfarce cometeram numerosos crimes no reino de Siggeir. E como Sinfjötli, já era maior Signmundr decidiu que já estava temperado para executar a vingança." (Volsunga Saga, VIII)

Além de estas fontes também há evidências arqueológicas dos simbolismo do cão/lobo entre os germanos do Final da Idade do Ferro como na bainha de uma espada Alamana do final do século VII a.C. do cemitério Gutenstein em Baden-Wurtenberg, e na placa de  de outra vainha de espada de uma necrópole de Obrigheim nas  Palatinado, ou nas placas de Björnhovda-Toorslunda do período vendel, e uma plaquinha de bronze de Vindonissa.   

vainha de Gutenstein, pormenor e reconstrução da cena; placa de Toorslund e plaquinha de Vindonissa

No caso da placa de Toorslunda Wotan/Odin aparece retratado com um casco com chifres  e acompanhado de um dos lobos/cães-homens. Também em comparação com a pratica dos lombardos teria que por se as representações de homens cinocéfalos armados, mesmo dir-se-ia que com machado de combate e escramaxe, do desaparecido corno de Gallehus (Jutlândia) datado na época das migrações barbaras. 

A este respeito são interessantes alguns dados como o descobrimento uma mascara de feltro que se topou no assentamento vikinge de Haithabu de uma mascara em feltro imitando a cara do lobo (ou urso), o igualmente a representação na Igreja de St. Sofia de Kyiv com 2 personagens em uma cena de combate: um armado de espada e escudo e o outro com o peito descoberto e cabeça do que semelha ser um canídeo.

De acordo com este simbolismo entorno ao cão/lobo e a guerra, e a associação maioritária dos cães a enterramentos guerreiros e de prestigio os autores pranteiam uma pergunta: poderiam vincular-se este ritual e as outras evidências conexas, com a presença entre os baltos sambiano-natangianos também de “guerreiros cães/lobos” nos tempos das migrações barbaras?. Uma interessante incognita pendente para um futuro


Artigo: 

Казанский, М. М., Мастыкова А. В. (2022): “Собаки в погребальном обряде самбийско-натангийской культуры эпохи Великого переселения народов и раннего средневековья и воины-оборотни” / M. M. Kazanski, A. V. Mastykova (2022): “Dogs in the Burial Rite of the Sambian-Natangian Culture of the Great Migration Period and the Early Middle Ages and Warriors-Werewolves” Stratum plus № 5.  pp. 15- 30   DOI: 10.55086/sp2251530
     

Alguma bibliografia complementar: 

Díaz Vera, J.F (trad.) (1998): Saga de los Volsungos. Gredos.Madrid

Lozano Gómez, F. (2008): "Los devoradores de hombres el culto a Zeus Liceo y la licantropía en Arcadia" in: Ferrer Albelda, E Escacena Carrasco,J. L. y Mazuelos Pérez (edits): De dioses y bestias: Animales y religión en el Mundo Antiguo Universidad de Sevilla. PDF

Fedele, A (2022) "Dog’s burying in Lombard cemeteriesduring the period spanning the 5th to the 7th centuries CE. An interpretative reading of the ritual trough the different funeral spaces" Oliveira, A.F da Silva, Coelho, A, Madruga; José Simões, J. & De Sousa, S. R., Vieira  (edits.) Juvenes. The Middle Ages seen by young Researcher. Publicações do Cidehus, 2022 DOI: 10.4000/books.cidehus.18988

Gräslund, A. S. (2004): Dogs in graves – a question of symbolism? in: PECUS. Man and animal in antiquity. Proceedings of the conference at the Swedish Institute in Rome.  Swedish Institute in Rome, Roma. pp. 167-176  PDF

Hollinger, Ch. (2019): "Ein Bildzeugnis germanischer Maskenkrieger aus Vindonissa" Gesellschaft Pro Vindonissa Jahresbericht 2018 pp. 3-17  PDF

Kontny, B. (): "Przeworsk culture society and its longdistance contacts, AD 1–350" in:  Urbańczyk, P.:  Polish Lands from the First evidence of human presence to Early Middle Ages  The Past Societies Vol. 4. pp. 163-216  PDF

Nichols, Chr, (2020): "Domestic dog skeletons at Valsg¨arde cemetery, Uppland, Sweden: Quantification and morphological reconstruction" Journal of Archaeological Science  DOI: 10.1016/j.jasrep.2021.102875

Peralta Labrador, E. (1990): "Cofradias guerreras indo-europeas en la España Antigua" El Basilisco Nº 3 pp. 67-66  PDF

Peralta Labrador, E. (2000) Los Cantabros antes de Roma. RAH. Madrid.

Samson V. (2011): Les Berserkir. Les guerriers-fauves dans la Scandinavie ancienne, de l’âge de Vendel aux Vikings (Vie — XIe siècles). Presses Universitaires du Septentrion, Volleneuve d’Ascq. DOI: 10.4000/books.septentrion.46376

Strehlau, H. (2018): Animals in burial contexts An investigation of Norse rituals and human-animal relationships during the Vendel Period and Viking Age in Uppland, Sweden. Tese de Mestrado em arqueologia. Universidade de Uppsala  PDF

Tenreiro-Bermúdez, M. & Moya-Maleno, P.R. (2018): “Sacrifício, Circunvalação e Ordálio na Hispânia Céltica: uma aproximação em longue durée à ritualidade do Espaço e do Tempo” Tempo, Revista de História Nº 3 24/3 pp. 652-686  DOI: 10.1590/tem-1980-542x2018v240313