sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Villae, habitat e sociedade - Entrevista


No século II dC as villae servem para amostrar o status 

 Entrevista à professora Annalisa Marzano (Universidade de Reading)

Annalisa Marzano, professora na Universidade de Reading (Reino Unido), centrou boa parte dos seus estudos na economia rural e o sistema da vila no mundo romano. É autora, entre outras, do livro Roman vilas incentral Italy. A social and economic history. foi a professora convidada do seminário internacional de Arqueologia Clássica, que teve local o ICAC nos dias 31 de janeiro e 1 de fevereiro, com o título "Habitat rural e transformação da paisagem à Antiguidade"


É uma experiente em villae.
Bem, me interessou estudar a economia das vilas e a sua função social. Isto é, estudar as vilas como estrutura produtiva e desde o ponto de vista social, e como isto altera para o longo do tempo.

A função social das vilas!
Sim, por exemplo os relacionamentos entre proprietários e vizinhos, entre proprietários e cidades... Temos que pensar que a vila também se usa para receber amigos e clientes. É um local para os negócios, os banquetes, os banhos... No século II dC a vila tem uma função social muito concreta.

São locais para falar.
Plínio o Jovem, autor do século II dC, explica até que ponto a vila é um local de encontro. Local de encontro fosse cidade. Mas há um vínculo forte entre os proprietários e os nobres de cidade que fazem parte do conselho autárquico. Também há um relacionamento forte com a cidade, já que os proprietários mais ricos são benfeitores: restauram templos, edifícios públicos ou fazem outros tipos de doações, e a mudança a cidade dedica-os estátuas em honra seu.

Desde o campo influíam na cidade.
Com o Império fazer carreira política é mais limitado que em tempo da República, porque todo depende do relacionamento com o imperador. A Roma as elites já não podem construir, por exemplo, porque a construção é monopólio do imperador. De forma que a sua influência fica fragmentada e já não está focalizada a Roma. Nas zonas rurais da Itália central é o momento que começam a emergir proprietários que ajudam, mediam...

Fazem política!
Aliás a vila acontece também o local onde expressar a carreira política. encontramos inscrições que dizem "eu fui cônsul, governador...". São inscrições que antes estavam na casa de cidade, mas ao século II já as encontramos nas vilas, onde também abundam as suas estátuas. Estátuas que são cópias das estátuas feitas em honra seu ao foro da cidade para honorários e como signo de gratidão.

A vila faz de escaparate.
Converte-se no palco onde o proprietário, que está orgulhoso, pode ensinar toda a carreira política. Este uso social também fica refletido no feito com que tanto as termas como as salas das comidas são maiores: há o precisado de um espaço mais amplo para atender e convidar mais pessoas.

Que importância tem as casas de cidade? São de uma importância menor respeito do período republicano, em que era chave para promonionares se queria entrar ao sistema eleitoral. As vilas emergem com a função nova de mostrar o status.

Mas contínua tendo uma dimensão económica, não?
Sim, e não se trata de agricultura tradicional e autossuficiente Isto é, não encontramos os cultivos típicos da oliveira e a vinha, senão uma exploração de todo o tipo de recursos agrários e naturais. Se criam pavões, furões.. Faz-se produção de mel... Todo o tipo de produtos um pouco de luxo, para os banquetes. Também há produção de cal, de enxofre...

A vila sempre se entende como local residencial e de produção?
Sim, exceto em algumas vilas no meio imediato de Roma, que são simplesmente palácios com o seu jardim.

Como se distribuem as vilas na zona centro-itálica?
Há uma ocupação intensa, sobretudo das zonas com um chão mais bom. Como que há a serrania dos Apeninos, à medida que subimos diminuem as vilas. Concentram-se ao longo dos rios navegáveis, muito interessantes como via de comunicação e transporte de mercadorias. O Tíber, por exemplo, é usado para levar o vinho até Roma. Também se fazem muitas vilas ao lado das vias, e com o tempo os proprietários melhoram a via e fazem caminhos secundários. Como passa aqui, aquelas grandes artérias de comunicação por onde hoje em dia passam as autoestradas e os comboios

As vilas começam a decair no século III dC?
Atenção! Faz-se uma associação entre a chamada crise de produção e o declive na feição decorativa das vilas, que parecem mais rústicas e pobres. Em época tardo-republicana na Itália fazia-se muito veio porque exportava-se muito. Era símbolo de status e vendia-se à Gália a mudança de escravos! Mas com o Império as províncias também se puseram a fazer vinho, e se pensa que isto comportou uma crise de produção na Itália e o abandono de muitas vilas.

E não é assim?
Se analisamo-lo bem, através da arqueologia, a epigrafia e os textos, vemos que o que passa é que há uma concentração de produção. Os proprietários, que passam de ter uma vila a ter umas quantas, decidem manter uma como residência e as outras continuam produzindo mas só vivem os locatores.

Quem consome, se já não se exporta?
Era um consumo regional e para fornecer Roma. Em período imperial a Roma vivia um milhão de pessoas! Há uma grande necessidade alimentária.

Este modelo de vilas, até quando dura?
O modelo de vila que explode o em torno perdura, transformado, até o século Vd.C. No século VI é quando há propriamente abandonos, e já começarão a se configurar os povos medievais.

Após dois dias em um seminário a l ICAC, que valoração faz?
foi uma experiência fantástica e Tarragona é uma cidade muito bonita. O ICAC é um ponto de referência muito importante quanto à investigação arqueológica e é bom que os seminários estejam frequentados pelos estudantes.

Virão colaborações com o ICAC?
vejo muitas possibilidades, porque os pontos em comum são muitos: O uso da paisagem, a economia da vila... Ademais, o meu objeto de estudo não é só Itália, senão todo mundo romano. Acabo de publicar um artigo sobre a urbanização à península Ibéria em período romano a partir da metodologia do "rank-size analysis", que põe em relacionamento o crescimento económico e a população das cidades. Como de grandes podem ser as cidades a partir dos recursos que têm ao seu arredor? À península tinha muitas cidades, mas pequenas.

                                (Extraido de Icac.net)


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