sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Copos, Caldeirões, Mortos e Banquetes

Este estudo trata a expansão geográfica de um traço concreto das culturas élitares do I Milénio, o uso em principio secundário de vasos de bronze, originalmente pensados para conter líquidos em cerimonias que implicavam o consumo alcoólico, como urnas cinerárias.  

Carrinho-Caldeirão de Skallerup, Museu Nacional de Dinamarca

A similitude de este ritual funerário é o descrito em fontes épica como a homérica Ilíada ou nas fontes hititas da Idade do Bronze, tem chamado a atenção a atenção do arqueólogos no intento de cartografar e explicar o expansão do costume da incineração sobre a inumação no Mediterrânea, e do uso de este tipo de contendor mais em concretos para tal fim.

Restituição gráfica do Carrinho-Caldeirão de Skallerup (Dinamarca)

Este estudos normalmente tem enfatizado a relação de esta pratica com a expansão de um pacote que amostra uma serie de objetos comuns que vão da mão da adoção de uma serie de praticas como parte de uma cultura de elite, que traspassa diversos âmbitos culturais. Instituições como o banquete, a adoção de determinadas formas de guerra e armamento e os valores, ou mesmo evolução política que estariam associados a estes câmbios, tem sido temas frequentes de estudo nas últimas décadas entorno a mobilidade e os contactos transculturais (e coloniais) na Proto-historia europeu e da área Mediterrânea em particular.

Espada hallstattica do s. IX a. C. Naturhistorisches Museum Nürnberg, foto: Oliver Dietrich 

Oriente Próximo (fundamentalmente o Levante), Itália, Grécia e os Balcãs ou o levante peninsular tem sido zonas abundantemente estudadas em essa linha de pesquisa, sem desbotar estudos que enlaçam também com o mundo Centro-Europeu e Atlântico como o volume de Sabine Gerloft sobre os caldeiros e sítulas do Bronze Final-Ferro no PBF. Este estudo que aqui recenseámos pretende abrir a um área mais geral sistematizando os dados sobre os enterramentos em vasos metálicos gerados desde o Mar Negro até Centro-Europeia em conjunto como os conhecidos do mundo mediterrânico.

Vaso anfórico de Gevelinghausen, carrinho votivo de  Acholshaussen, vasos e sítulas hallstáticas

Esta perspetiva pan-europeia permite mostrar uma serie de regularidades, como a prevalência de contendores para bebida no uso de Urnas metálicas, um 95% dos 598 totais do corpus coincidem em este padrão. No que em palavras da autora exemplifica claramente:  “A estandardização e continuidade de essas práticas aristocráticas práticas enfatizavam o status social de essa elite, o qual contribuíam a legitimar e perpetuar”

Distribuição das urnas metálicas a finais do s. VIII a.C.

Assim como Grécia parece ser o núcleo inicial de este uso, as primeiras a mostras fora de este contexto semelham proceder da região alpina, a ambas as duas beiras da cordilheira se topam este tipo de vasos em um contexto temporal que vai do s. XIV ao IX a.C. Ao norte dos Alpes este tipo de enterramentos se topam em zonas do Sul de Alemanha e Escandinávia e no SE de Centro-Europa, pré-datando esta prática em vários casos a cronologia dos Campos de Urnas (XIII- VIII a. C) onde se mantêm até a fase Hallstatt C.

Diversas urnas cinerárias de tradição dos Campos de Urnas da Cultura Villanoviana: urna de Bronze, com tapadeira imitando capacete, urna cerâmica brunida (para imitar o aspeto metálico) fechada com capacete metálico, urna cerâmica fechada com tapadeira em forma de copo; Urna cinerária canópica de época etrusca.  

Durante o período que vai entre o S. IX e VIII observasse uma expansão de este tipo de praticas unido frequentemente a expansão da Cultura dos Campos de Urnas assim como a uma serie de item de prestigio como caldeiros, determinado tipo de armamento, tanto na parte Oriental de Europa como na Itália (da Etrúria ao Lácio ou Campânia).

As similitudes entre as urnas bitroncocónicas itálicas e norte-europeias, mesmo em regiões tão longanas como Escandinávia, são significativas, o qual se observa tanto nos exemplares cerâmicos como metálicos, fechados normalmente com um casco que coroa ao defunto em um identificação corpo-urna que preludia as posteriores urnas canópicas etruscas, ou por patadeira com forma de copo aludindo de novo a âmbito convivial. 

Distribuição das urnas metálicas a meados do s. VI a.C.

Incluísse aqui também outras tipologias como as sítulas, caldeiros ou cistas, junto a exemplar tipo ânfora em algum contexto, usados com a mesma finalidade ou relacionados de um ou outra forma com o banquete. Nas área mediterrânea as urnas metálicas apresentam uma menor uniformidade respondendo a tradições locais, casos como o cipriota, ródio, ou na Magna Grécia, tradições em alguns casos desaparece rápido, entanto que em outros contextos do âmbito grego permanecera muito a posterior. Segundo a autora esta permanência estaria relacionada no mundo grego com peso da tradição épica homérica na cultura aristocrática. 

Vaso anfórico de Gevelinghausen, Museum für Archäologie Herne. foto: Dieter Menne

Zonas mais periféricas m contacto com o âmbito grego e itálico como o Adriático parecem amostrar um padrão funerário mais hibrido que combina a incineração com o costume autóctone de inumação. Em contexto centro-europeu e França a prática de incineração é substituída pela inumação durante o Ferro e os poucos casos de enterramentos em urna parecem ter conexões com o mundo itálico, se a incineração contínua predominando dentro da periferia etnicamente germana.


Bibliografia: 

Desplanques, E. (2022): "Protohistoric metal-urn cremation burials (1400–100 BC): a Pan-European phenomenon" Antiquity Nº  96/389 pp. 1162–1178  DOI: 10.15184/aqy.2022.109


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