domingo, 3 de junho de 2012

Inauguração do CEDIEC

CEDIEC, um centro de vocação europeia único em Portugal

À margem do Colóquio Internacional “Simulacra et Imagines Deorum. O Rosto das Divindades”, foi inaugurado o Centro Europeu de Documentação e Interpretação da Escultura Castreja (CEDIEC), na envolvente do Museu Rural de Boticas, que visa valorizar as expressões artísticas proto-históricas do Noroeste peninsular.

A partir de hoje, seremos uma janela aberta ao mundo na área da cultura castreja”. Palavras do presidente da Câmara Municipal de Boticas, Fernando Campos, no primeiro dia de vida do Centro Europeu de Documentação e Interpretação da Escultura Castreja (CEDIEC), inaugurado na passada quinta-feira, 24 de Maio. O acto solene contou com a presença de Luís Raposo, director do Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, onde estão as estátuas originais do Guerreiro Galaico encontradas no concelho, e da Directora Regional da Cultura do Norte, Paula Silva.



Desde mós, moedas e uma maquete do Outeiro Lesenho às armas usadas pelos povos indígenas e vídeos explicativos, o CEDIEC reúne um interessante espólio de peças arqueológicas ao lado de salas de documentação e de investigação, uma biblioteca e a réplica de um balneário castrejo no exterior, que deverá ficar concluída no verão. Contudo, os maiores atractivos são as réplicas dos quatro Guerreiros Galaicos achados no Outeiro Lesenho e uma do Guerreiro de Sanfins.



Além de museu, que irá receber futuramente réplicas de guerreiros achados em Glauberg, na Alemanha, este espaço será sobretudo “um repositório de toda a documentação que existe em qualquer parte do mundo, em qualquer língua, sejam originais, réplicas ou digitalizados, o que significa que as pessoas que queiram vir estudar essa época podem fazê-lo aqui em conexão com qualquer ponto do mundo onde haja também referências”, explicou Fernando Campos. Um acervo científico, histórico e documental que estará sempre disponível. “O saber e a inspiração não têm hora de funcionário público e um estudioso pode a qualquer momento levantar-se e ir para a biblioteca, entrar na Internet e procurar imagens virtuais relacionadas com a área da cultura castreja em qualquer parte do mundo”, notou ainda o autarca botiquense.



Para Luís Raposo, que dirige o Museu Nacional de Arqueologia há 16 anos, “o Guerreiro Galaico foi sempre um grande símbolo nacional” e juntar várias valências (museu e centro de documentação) numa só instituição é um “caso único no país”



Deste modo, “qualquer pessoa que queira estudar escultura monumental castreja, é aqui que tem de vir. Serve o turista, que vem a Boticas pela boa gastronomia, paisagens, monumentos, pesca e várias actividades. Serve as escolas, por toda a valência exterior lúdica e um balneário castrejo. Serve o estudioso […], o escritor, o sacerdote, o filósofo, o místico, ou seja, qualquer pessoa que num momento do seu percurso de vida entendeu que castros, motivos castrejos, príncipes castrejos, deuses castrejos é um tema que lhe diz algo e quer produzir algo [sobre ele], sublinhou o arqueólogo, no acto inaugural do CEDIEC.

Aos botiquenses, Luís Raposo prometeu ainda “divulgar o mais possível este conceito inovador”.


O Centro “vai atrair turismo especializado” para Boticas
“Retratar uma das expressões artísticas mais originais da nossa região e da proto-história europeia” é o objectivo primordial do CEDIEC, notou o docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Armando Coelho, que ministra um doutoramento em Museologia. 



Para o coordenador científico deste projecto financiado por fundos comunitários, a localização de um centro de vocação europeia tem razão de ser em Boticas, já que os quatro guerreiros encontrados no Outeiro Lesenho seriam “quatro chefes de entidades étnicas instaladas na região que se juntaram, num momento de crise, certamente aquando da chegada dos romanos nos tempos de Augusto, para celebrar entre si um pacto perante a divindade, oferecendo-lhe um sacrifício”.



O CEDIEC será “um sítio de estudo”, onde será aprofundada a investigação arqueológica relacionada com o Lesenho, mas também um espaço “de lazer e visita agradável para pensar e reflectir, que também é muito preciso nos tempos em que estamos”, considerou Armando Coelho, convicto que o centro irá atrair os olhares e as atenções dos investigadores estrangeiros, criando “um turismo especializado”, que junto com o cultural, “será o turismo do futuro”.



Em paralelo com a sua inclusão na futura “Rota Castreja”, o Outeiro Lesenho, onde estão a ser recuperadas as muralhas do Castro, classificado Imóvel de Interesse Público e que terá um núcleo interpretativo na antiga casa florestal, continuará a ser alvo de estudo em rede com outras entidades, sendo algumas já parceiras do município de Boticas na implementação do CEDIEC, nomeadamente: Universidade de Lisboa, Universidade do Minho, Ministério da Cultura, IGESPAR, Instituto Arqueológico Alemão de Madrid (Espanha), UNIARQ, Liga dos Amigos do Museu Nacional de Arqueologia e Grupo de Amigos dos Guerreiros Castrejos (Gucas).



Com conclusão prevista para o Verão do CEDIEC, a réplica do balneário do Castro das Eiras, construída a partir de ruínas existentes em Vila Nova de Famalicão, e exposta em 2008 no Museu Nacional de Arqueologia onde foi visitada por mais de 100 mil pessoas, irá deliciar os curiosos de passagem por Boticas, que poderão realmente experimentar o ritual do banho de sauna e água fria, outrora sagrados e símbolo de iniciações e renovações.

Fonte: Diario Atual - Sandra Pereira


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