quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A complexidade do Dizer e do não-Dizer



Depois da muito interessante palestra de Martínez Mendizaval abriu-se um não menos -ainda que curto- interessante debate, ao final do qual saiu o tema da necessidade da linguagem, de como fixo necessário dividir o chio ou o bruar do símio em sons mais, curtos, discretos e articuláveis (graças as consoantes) e como foi necessário mesmo um ouvido  -o tema principal da palestra- especial -na longitude de onda ajeitada- para escuta-los, e como isto permitiu-nos transmitir informação mais complexa. Curioso e que no debate Mendizaval citara como precedente comunicativo-social o "despiolhamento" dos chimpanzés de um antropólogo evolutivo que já tem aparecido de passada neste bloge, Robin Dunbar, e a sua ideia de que o passo à linguagem foi consequência de articular grupos mais amplos e relações socialmente mais complexas que anteriormente dentro daqueles grupos de primates

A "complexidade social" precisou noutras palavras da "complexidade comunicativa". Curiosamente essa mesma complexidade da comunicação humana é a mesma que faz a nossa forma de falar seja a um tempo uma forma de transmitir conhecimento muito eficazmente ou de levar ao erro, ou ao engano e a confussão. Pois certamente, uma das qualidades da linguagem humana com respeito a dos animais, pensava logo mentres marchava para a casa, é a a essencial "ambiguidade" do falado, as mensagens animais, por exemplo os sinais de perigo, afeto são simples e unívocos e não precisam maior explicação: uma chamada de perigo e sempre algo ante o que fugir independentemente do que seja e da natureza que seja o que nos faz correr diante. A necessidade de precisar as coisas de distinguir categorizar, fazer divisões, de jerarquiçar a realidade analogicamente leva aparelhada também uma enorme possividade de confusão e "ambiguidade"

A dura realidade dos "cancinhos aos que so lhes falta falar"

Mas essa "ambiguidade" longe de ser um defeito de fábrica e profundamente beneficiossa no que respeita a comunicação social. A ironia, o dobre sentido, ou o sentido figurado tão importantes e tão pressentes na nossa vida social e na nossa mais cotia comunicação são resultado da nossa capacidade linguística, eles são desde a perspetiva de outras espécies e da nossa própria "Refinamentos Contextuais" mas também por em a única forma de transmitir conhecementos especializados e articular umas relações muito complexas entre pessoas e que superam a pequena escala das populações animais. Então recordando o argumento de Dunbar, e ao fio do simbólico visse-me a cabeça a recorrente perspetiva da Cultura humana como resultado das novas necessidades de coordenação do grupo, e viram-me  a testa, assim mesmo, outros nomes como a da teoria socio-cognitiva da Religião como meio adaptativo de coexão social de Sosis e Alcorta, e como não o seu velho e eterno precedente naquele livro genial -ainda hoje- do grande Émile Durkheim.

Modelo da rede social de um só individuo 

Passaromse-me pola cabeça igualmente nesta mini-entropia de pensamentos ao chou as dificuldades da inteligência artificial para que as maquinas puderam imitar a natureza profundamente "contextual" e "situaçonal" da linguagem que sem mais dificuldade usamos todo-los dias os seres humanos.
E voltando em circos a Dumbar e a outro tema dos que saíram no debate o da "comunicação não-verbal" e a sua relação com a historia evolutiva da linguagem viram-me a cabeça mais nomes que nos tocaram nas assinaturas de psicologia social durante a carreira, Flora Davis, Wilson, Knapp e etc., e não podem evitar que na minha mente se fixe-se um peculiar paralelo entre a historia da escritura que lhes estou a explicar as minhas alunas/os e o seu longo e peculiar passo de representar imagens de coisas a representam fonemas que, a sua vez, representam as coisas. Mas cecais aqui já desvariava entre as ruas chuventas

Haka maori
Uma vez já no conforto do fogar, e algo mais enjoito, pensei que era um bom momento para desempolvar do imenso arquivo de postagens em lista de espera que tem o Archaeoethnologica esta entrevista ao Dunbar, que acima tendes, que se emitira vai uns meses no programa Redes, e na que se mostra, mesmo alem do que dízimos, a complexidade infinda do que ainda não se diz.


Algo de Bibliografia

- Davies, F., A comunicação não-verbal. Summus editorial, 1979
- Dunbar, R., "The social brain hypothesis" Evolutionary Anthropology 6, 1998 pp. 178-190
- Dunbar, R., "The social brain: mind, language and society in evolutionary perspective" Annual Reviews in Anthropology 32, 2003 pp. 163-181
- Durkheim, E., Las Formas elementales de la vida religiosa. Akal, Madrid, 1992
- Sosis, R. & Alcorta, C.S.: "Ritual, Emotion, and Sacred Symbols. The Evolution of Religion as an Adaptive Complex" Human Nature, 16/4 2005, (Special issue: Evolution of Religion) pp. 323–359 
- Hill, R. & Dunbar, R., "Social network size in humans" Human Nature 14, 2003 pp. 53-72
- Joffe, T. A. & Dunbar.R., "Visual and socio-cognitive information processing in primate brain evolution" Proc. R. Soc. Lond.B 264,1997 pp. 1303-1307 
- Knapp, M. L., & Hall, J. A., Nonverbal Communication in Human Interaction, Cengage Learning, 2009


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