
Hoje enteramo-nos com grande tristura da morte o passado dia 30 de Agosto de Blanca Garcia Fernández-Albalat (1959-2025). Especialista na religiôes pre-romanas da Península Ibérica com foco no âmbito galaico-lusitano, Blanca doutorou-se em História Antiga e Arqueologia com uma tese sobre a religião da Galaecia e Lusitania antigas intitulada "Los dioses de la guerra y su relación con las comunidades en el área galaico-lusitana" (1989) a qual foi publicada posteriormente de forma abreviada como "Guerra y Religión en la Gallaecia y la Lusitania Antiguas" (1990)
Anteriormente a tese Blanca se iniciar na pesquisa com a sua tesina de licenciatura (1983) "El culto a las divinidades de las Aguas en la Gallaecia Antigua" na que reviu o material galaico a luz da informação disponível sobre o culto das águas na Céltica continental e insular, estudo que foi resumido como capitulo dentro segundo volume de Mitologia y mitos de la Hispània prerromana (1985)
Na sua tese partiu do estudo da epigrafia disponível utilizando o sentido etimológico dos nomes e epítetos das divindades para extrair informação sobre o mundo do simbolismo e a ideologia dos galaicos e lusitanos antigos, situando a sua religião dentro do paradigma da trifuncionalidade indo-europeia que foi desenvolto por George Dumézil, que fora anteriormente introduzido na investigação peninsular pelo seu diretor de tese J.C Bermejo Barrera, e aplicado ao âmbito céltico por Christian I. Guyonvarc´h, autor este ultimo com o que Blanca teve uma frutífera relação epistolar, que lhe permitiu aplicar boa parte dos aportes do linguista bretão ao seu estudo do panteão galaico-lusitano.
Guerra e Religião teve um forte impacto, além do âmbito do ocidental peninsular, nos estudos das religiões da chamada Hispânia Indo-europeia, sendo durante muitos anos uma obra de referência obrigada, citada pelos especialistas na matéria e que sem dúvida supus um câmbio de paradigma que abriu a área a novas possibilidades interpretativas, fronte a um certo estancamento metodológico da pesquisa desde as aportes dos fundadores da disciplina na Espanha como a de J.M Blázquez.
Esta analise trifuncional baseado na linguística supunha ademais o enmarcamento pleno do panteão galaico-lusitano no contexto das religiões célticas, realizando uma comparação direita com o conhecido em regiões como a Gália e Irlanda, linha de pesquisa aprofundada em diversos estudos posteriores nos que tentou aplicar igualmente a outras divindades o mesmo esquema, como os seus artigos "La diosa Erbina, la soberanía guerrera femenina y los límites entre Igaeditanos y los Vetones" publicado na revista Conimbriga (1993), ou "El hecho religioso en la Galicia céltica" (1993) ou "Ritos funerários Galicia Céltica" (1996), entre outros tantos numa extensa bibliografia.
No âmbito professional Blanca lecionou na Universidade de Santiago e anos depois na Faculdade de História da Universidade de Vigo, e assim mesmo trabalhou dentro do âmbito da arqueologia profissional, e formou parte de diversas entidades como Academia Galega da Lingua Portuguesa, da qual era membro correspondente, e da Asociación de Amigos de la Cultura Celta.
Desde um âmbito pessoal Blanca influiu-me de múltiplos jeitos. Foi seu livro do 1990 de certo o primeiro que li sobre religiões célticas, e no que por primeira vez soube da mera existência de Dumézil e da sua obra, da que logo tenho sido um leitor voraz. Penso que há toda uma geração de pesquisadores que compartimos uma série de referentes entre os que Guerra e Religião ocupa um lugar destacado. Mas também além do propriamente académico, anos depois deste contacto puramente livresco teve a oportunidade de ter uma relação mais pessoal e estabelecer uma amizade com Blanca, da qual conservo na memória muitos bons momentos e longas conversas
A sua morte, realmente surpreendente e inesperada, supõe a perda tanto de uma grande pesquisadora como de um grande ser humano. Desde aqui as minhas condolências mais profundas a seu filho Mateo e mais família.
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De: Jaime Siles Ruiz
ResponderEliminarEnviada: 2 de setembro de 2025 08:54
Lamento mucho la muerte de la Dra. Blanca García Fernández Albalat y ruego se haga llegar mi más sentido pésame a sus familiares. Jaime Siles