Recentemente publicou-se o achado de uma pequena construção do Bronze Meio (1800-1100 A.C). que aparecera em Nijmegen (Paises Baixos) nas escavações que decorreram entre os anos 2001-2003. Inicialmente descrito como um espaço ritual pela presença de vários depósitos votivos próximos, os autores do artigo apresentam uma reinterpretação como uma sauna da Idade do Bronze que pudera estar associada a algumas atividades rituais.
As estruturas localizam-se numa chaira fluvial perto do rio Waal, e apresentavam forma de cabana, mostrando diversas camadas de pedras nos alicerces e pavimentos de argila, sem postes, sugerindo-se que a cobertura do espaço ter-se-ia conseguido mediante uma estrutura flexível de vimes. Igualmente conexo coa estrutura topou-se 2 grandes poços, um de eles de uma profundidade de um metro, para conter água potável.
Nas excavações foram topada uma grande quantidade de bolotas no fundo do último poço de água o que implia a proximidade de carvalho o qual junto com as análises paleobotânicas revelam uma paisagem rica em árvores e arbustos com uma significativa escassez de cereais e vegetais cultivados, o qual sugere que o local se situava numa clareira da floresta, possivelmente criada artificialmente pelos utentes das estruturas e que não estaria concebida como lugar de assentamento senão com alguma finalidade específica.
Burnt Mounds: Irlanda, Blacklion, Co. Cavan; o plano de Liddle 1, e escavação de Westray, ambos em Orkney (Escócia)
A abundância de madeira cardoniçada fiz aos escavadores pensar que a estrutura poderia corresponder-se com o tipo de local que na Irlanda e Grã Bretanha é conhecido como "Burnt Mound". Os autores comparam a ausência de evidências de atividades habitacionais nos Burnt Mounds com o padrão que também se observa no caso de Nijmegen.
Uma das evidências mais significativas para suster o paralelo com Burn Mounds insulares foi a presença de bolas de argila recozidas pelo uso continuado foram identificada com peças cerâmicas para o aquecer água produzindo vapor. O uso de pedras e conhecida etnograficamente como uma forma de ferver água com rapidez, técnica pré-histórica que, sem duvida, predata a invenção de recipientes para cozinhar. A possibilidade de usar igualmente a argila para igual finalidade foi testada experimentalmente:
"Algumas
experiências básicas foram realizadas para testar a hipótese de que esses
pedaços de argila siltosa pode ter servido como fonte de calor nas câmaras de
suor, principalmente para responder à questão de saber se as bolas de argila
aquecidas podem resistir à exposição à água fria, tanto por aspersão quanto por
imersão 17. As bolas de argila fabricadas foram deixadas para secar por quatro
a cinco semanas e depois colocadas ao redor de uma fogueira a lenha em um poço
raso. Após pelo menos três horas, corpos de prova com temperatura em torno de
200 °C foram borrifados com água fria. Isto não causou fraturas, apenas vapor
(fig. 13). Num segundo teste, uma série de cinco bolas aquecidas a
aproximadamente 350 °C foram imersas em um balde contendo 10 ℓ de água morna
(13–18 °C). Isso foi repetido duas vezes, cada vez após secar as bolas no fogo
e reaquecê-las a 350 °C. O dano foi limitado a algumas rachaduras em uma das
cinco bolas. A primeira impressão destes experimentos é que a porosidade das
bolas de argila as torna, na verdade, mais resistentes aos choques de
temperatura do que muitos tipos de pedra"
Sobre o sentido destas peculiares estruturas insulares se tem oferecido várias propostas como locales para cozinhar carne no meio selvagem (Hawkes), produção de cerveja (vid aqui), ou uma a funcionalidade como sauna pré-históricas, teoria que é sustida num interessante artigo dos anos 80 por Barfield e Hodder, quem as comparam com os banhos de suor do continente americano (como os dos Sioux) e outros casos de banhos de suor Europeus, tanto históricos (medievais e antigos) como conhecidos pela etnografia.
casa de suor dos indios sioux e temazcales mexicanos: Codice Magliabechian s. XVI e temazcal atual
As duas primeiras hipóteses podem ser descartadas para o caso holandês ante a falta de qualquer resto alimentar. Ausência de alimentos leva aos autores a considerar que esta cabana situada em um lugar marginal no meio do bosque fora uma espécie de "lugar de abstinência" vinculado a algum ritual.
É concebível que as bolas de barro quentes tenham sido aspergidas com água
para criar uma cortina de vapor através da qual os participantes de uma sessão
tinham que passar –um rito de passagem no sentido mais literal! E é apenas um
pequeno salto de pensamento associar a estrutura oriental ao tipo de
cerimónias, restrições e espiritualidade conhecidas nas tendas de suor em
tempos mais recentes. Aspetos mais físicos, como limpeza, alívio de doenças e
bem-estar físico também terão sido importantes. A gama de possibilidades pode,
de facto, ser ainda maior, como sugerido por uma fonte escrita antiga. No
século V a.C., o historiador grego Heródoto escreveu que os citas gostavam de
colocar sementes de cânhamo nas pedras quentes das suas saunas. De facto de Heródoto também se referir aos banhos de vapor gregos, pode-se inferir
que as saunas já eram comuns naquela época, pelo menos em partes do continente
europeu
A escassas dimensões das estruturas levam igualmente aos autores a especular que o local fora usado por um grupo limitado, uma determinada linhagem ou grupo sacerdotal. Interpretaçôes ritualistas dos o usso das saunas pre- e proto-históricas que concordam com a linha iniciada ha umas décadas por Martin Almagro-Gorbea para interpretar as saunas da Idade do Ferro Peninsular (sobre estas vid
aqui).
saunas da Idade do Ferro de Pendia (Astúrias) e Monte Ornedo (Cantábria)
Outra questão que os autores consideram no artigo, ante a ausência de outras evidências de estruturas similares na Centro Europa, e o paralelo com as Burn Mound insulares, é se esta técnicas dos banhos de vapor poderia ter chegado por via de contactos ultramarinos com o âmbito britânico, e mesmo trazida por grupos de emigrantes.
Embora que sobre esta mostrando a sua cautela pelo facto de que o uso de bolas de argila em vez de pedras aquecidas presenta uma diferença com respeito o caso insular que poderia mostrar uma tradição local independente, ainda não testemunhada noutros jazigos, mas da que num futuro poderiam aparecer testemunhos.
Artigo:
Van den Broeke, P., van Beurden, L, Hänninen, K. & Vermeeren, C. (2023): A Bronze Age Sauna in Nijmegen (prov. Gelderland / NL): An Exceptional Site in Mainland Europe. Archäologisches Korrespondenzblatt Nº 53/ 3 pp. 315-332 DOI: 10.11588/ak.2023.3.101724
Bibliografia complementar
Almagro-Gorbea, M. & Alvárez Sanchis, J. (1993): "La 'Sauna' de Ulaca, saunas y baños iniciáticos en el mundo céltico" Cuadernos de arqueología de la Universidad de Navarra Nº 1 pp. 177-254 PDF
Barfield, L. & Hooder, M. (1987): "Burnt mounds as saunas, and the prehistory of bathing" Antiquity Nº 61 pp. 370-379 DOI: 10.1017/S0003598X00072926
Brown AG, Davis SR, Hatton J, et al. (2016): "The Environmental Context and Function of Burnt-Mounds: New Studies of Irish Fulachtaí Fiadh" Proceedings of the Prehistoric Society Nº 82 pp. 259-290
Hawkes, A. (2018): The Archaeology of Prehistoric Burnt Mounds in Ireland. Archaeopress. Oxford
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