segunda-feira, 16 de abril de 2012

A Primaveira dos Iberos

Achada uma estela dedicada a uma deusa na porta entrada à cidade O ritual estava relacionado com a fertilidade, segundo os experientes. No equinócio o sol percorre um corredor e alumia a figura da divindade Achados na zona restos de um sacrifício animal datado no século IV a.C
   
O jazigo de Puente Tablas volta a estar de atualidade. Menos de um ano após que saísse à luz o primeiro palácio ibero escavado em Andaluzia, os pesquisadores do Centro Andaluz de Arqueologia Ibérica (CAAI) da Universidade de Jaem (UJA) acharam neste enclave -a poucos quilómetros da capital jiennense- signos de um ritual nunca antes constatado na região.


"Trata-se de uma porta com uma estela na que está representada uma divindade que, segundo as características que apresenta, seguramente é uma deusa da fecundidade", comentou nesta segunda-feira o diretor do CAAI, Arturo Ruiz, explicando que, coincidindo com o equinócio de primavera, o sol percorre os 15 metros de corredor que levam até a estela e alumia a figura "desde a cabeça até abaixo" durante meia hora.


"Fizemos o experimento esta manhã e a verdade é que é espetacular", assegurou, assinalando que este rito se completa com os restos de um sacrifício animal achados na mesma zona. "Encontrámos os restos de 13 porcos e duas cabras; no caso dos porcos, alguns eram neonatais ou, inclusive, poderiam não ter nascido ainda, de tal maneira que se tratasse de porcas grávidas, o que reforça a hipótese de que é um ritual de fecundidade", apontou Ruiz.


"É algo muito chamativo e inovador", acrescentou o diretor do CAAI, destacando que é a primeira vez que todos estes elementos se constatam juntos em um jazigo ibero na comunidade andaluza. "Em Andaluzia sim constataram-se provas de rituais de equinócio, por exemplo em Serra Morena, onde há grutas nas que entra a luz até o fundo durante o ocaso. No entanto, não se deu nunca com a complexidade do sacrifício", afirmou.


O achado produziu-se na porta primeiramente ao oppidum, cuja descoberta se deu a conhecer no passado mês de outubro. "Aquela era uma porta do século III a.C. que estava realçada sobre outra do século IV a.C. -expôs Ruiz-. Falamo-lo com a Junta de Andaluzia e decidimos escavar completamente a que estava embaixo, sacando e numerando a cada peça da outra para poder a montar de novo em qualquer momento".



Graças a essa escavação saiu à luz este "ritual", parte do qual (o sacrifício), segundo apontou o responsável pelo CAAI, poderia ser um "rito de fundação" da porta, mas que no seu conjunto aponta à abertura de "algum tipo de festa" de celebração da primavera, tempo de fecundidade.

Fonte: El Mundo 19/03/2012



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