domingo, 9 de outubro de 2022

"ANCESTRALIDADE"


Que significa "Ancestralidade"?, depende.

É frequente em estes tempos que ouvir a paleogenetistas falando (sobre tudo nos jornais) de que coisas como que boa parte dos asiáticos são descendentes de Genghis Kang ou que tal grupo pré-histórico "não são os nossos Ancestrais" e semelhantes afirmações que dão a um publica geral uma visão muito simplificada de realidades como as pré- e proto-históricas por sim próprias muito mais complexas

uma alegoria da diversidade da ancestralidade no mesolítico báltico pelo artista Tom Bjórklund

Estas coisas recorda-me certa vez que no colégio uma mestra nos dizer que "éramos descendentes dos romanos" salvo um companheiro que tinha o pelo louro quase até ser branco que "debía tener algo de celta".

uns rubicundos "barbaros" por Evariste Vital Luminais

Por sorte em esse tempo não éramos -aparentemente tão racistas, e não lhe fizemos mobing durante o recreio arrodeiando-o no entanto o sinalizavamos com o dedo ameaçadoramente ao tempo que lhe cantávamos aquilo de "celta, celta ... nana-nana". Isso nunca sucedeu

 
"Olhos verdes e albinisto-celtas -pelo visto- são traidores"

O que sim sei e que ao chegar a casa disse-lhe tudo orgulhoso a minha mãe "sabias que somos romanos!". Orgulho estranho porque de facto em essa tenra infância não sabia nem por assomo que era um romano nem que pinta tinha, e se me ensinaras um debuxo dum senhor vestido de austro-húngaro bem poderia pensar que era um "romano".

as ambiguas e conflituais relações entre romãos e austro-húngaros na inocente mente de uma criança

Não deixo de pensar que em certa forma que as versões populares de estes temas se achegam muito a minha visão daquela: Soluções símplex para problemas aparentemente símplex ... que são os meus Ancestrais pois aqueles dos que descendo, já sejam Genghis Kang ou ou seu copeiro (isto ultimo com mais probabilidade "que ainda há classes")

Temuginus (aka Genghis Khan) incertust est??

Bom, mas a coisa se complica desde o momento em que pensamos que a nossa Ancestralidade não tem um sentido unívoco nem é a mesma dependendo de como a mire-mos. De facto a nossa Ancestralidade genética não tem o mesmo alcance nem a mesma amplitude que nossa Ancestralidade genealógica.


É singelo fazer-se a ideia e entende-lo, apenas temos que pensar em quantos avos temos cada um de nós e fazer a conta cara atrás para ver como exponencialmente o número de bisavôs, trisavôs, etc, etc, vai aumentando exponencialmente quando mais nos alongamos do nosso próprio "ego" (em sentido da antropologia do parentesco, olho), o mesmo sucede cara adiante se temos descendência e esta descendência tem a vez descendência (e não nos extinguimos como os dinossauros). Tanto desde um ponto de vista (desde o futuro ou desde o passado) a árvore genealógica não faz mais que medrar e emaranhar-se quanto mais avançamos/recuamos em ela.


Por contra com os nossa arvore "genealógica" genética sucede tudo o contrario, a medida que retrocedemos diminuem as ponlas. A que se deve esta poda massiva de acestrais genêticos?. BomM também é singelo de entender: O código genético é um sistema de transmissão de informação e como todo sistema de transmissão de informação tem um limite e uma capacidade máxima dos dados que pode reter, e por tanto transmitir. No nosso caso os nosso bits estão limitados a 23. Os 23 pares de cromossomas que nos dão forma... quem se senta impressionado com o número que conte os que tem uma volvoreta (o tamanho e o número não sempre importam mas tampouco são sempre correlativos)

representação gráfica da Filogénese, diagrama de Darwin

Esta limitação objetiva da memoria do nosso disco duro genético faz que ao longo do tempo boa parte da informação seja crivada tanto por uma processo de seleção (natural ou social), quando a Natureza vota a papeleira de reciclagem os arquivos que não precisa, ou bem eliminada por símplex acaso (o que se chama "deriva genética").

herança e perda de riscos genéticos entre gerações (em este caso enfermidades hereditárias) e deriva genêtica

Isto tem como resultado não só que de todas a informação genética potencial não se transmita (já sabemos que somos um mistura dos nossos pães/mães nalgumas coisas e não em outras) senão também que a medida que passa o tempo e retrocedemos cara atras aumenta a perda de informação genética

perdida de complexidade informativa: redução de mensagens possíveis emitidos durante a transmissão a diacrónica

Ê um simplex processo de economia informacional que tudo o mundo pode entender, de todos os nossos avos, apenas parte da sua informação genética queda em nós e o mesmo se pode aplicar a eles com respeito aos seus avos; dai-se assim o paradoxo que a medida que descendemos na nosso arvore geneológica a quantidade de informação genética que fica em nós de esse passado e cada vez mais reduzida. Isto é quando mais atrás vaiamos menos "ancestrais" temos

quanto há em nós dos nossos ancestrais?. Adrian Targett fronte a reconstrução do seu "ancestral" genético o "Homem de Cheddar"

E assim chegar ao cabo de uns milénios ao ponto que sinalão essas novas sensacionalistas e exista uma soa Eva primordial da que todos procedamos, ou um Gengish Kang (com mais probabilidade seu copeiro) aparentemente hiper-fecundador. A realidade tem menos glamour, não temos sítio para tantos genes, e como os apelidos os vamos deixando no caminho para que quedar-nos apenas com o ultimo par. Há mil anos os nossos ancestrais eram mais Neandertais, mesolíticos e neolítico, etc. do que nós somos agora, mas dentro de outros mil (se a tal chegamos) os nossos descendentes o serão menos ainda do que nós, e mais eles serão ainda menos "nós" a pescar inevitavelmente vir de nós. Eis a subtil diferencia, não sempre considerada, entre a "genética" e "genealogia" da nossa "Ancestralidade".



Que importância tem tudo isto fora do coutos fechados do meio científico (arqueológicos, históricos, paleo-genéticos …) para a vida cotia da gente,  mas bem pouca ou nenhuma, ou assim devera ser.  Desde logo certos movimentos políticos e ideológicos que hoje sacam o ADN e/ou a Seleção Social onde ante-ontem casavam a Raça e a Eugenesia, deveram de sacar menos peito; que a fim de contas a volvoreta “a segue tendo mais grande” (a sequencia de ADN entenda-se)



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