A obra esculpida em marfim de mamute foi redatada, e 1.000 novos fragmentos descobertos mas não vai figurar na exibição do British Museum
A peça estrela inicialmente prometida para Ice Age Art do British Museum finalmente não figurara na exposição, mas por uma boa razão. Novos fragmentos da escultura do Homem Leão de Ulm foram descobertos e eles mostram que a peça parece ser mais velho do que se pensava inicialmente, cerca de 40.000 anos. Isto faz dela a escultura figurativa mais antiga do mundo figurativo. Na exposição de Londres, que abre em 7 de fevereiro, figurara em vez da original uma réplica proporcionada pelo Museu de Ulm.
A história da descoberta do Homem Leão começa em agosto de 1939, quando os fragmentos de marfim de mamute foram topados na escavação da parte traseira da Caverna de Stadel nos Alpes da Suábia (sudoeste da Alemanha). Aquilo sucedeu alguns dias antes do inicio da Segunda Guerra Mundial. Quando finalmente foi reensamblada no 1970, a estátua foi considerada como um urso em pé ou um grande felino, mas com características humanoides.
O marfim no que a figura fora esculpida tinha quebrado em inumeráveis fragmentos. Quando for reconstruído, cerca de 200 peças foram incorporadas a escultura de 30cm de altura, embora cerca de 30% de seu volume faltava.
Outros fragmentos foram mais tarde encontrados entre o material escavado anteriormente e foram adicionados à figura, em 1989. Neste ponto, a escultura foi reconhecido como representação um leão, que a maioria dos especialistas têm considerado como masculino, mas a paleontóloga Elisabeth Schmid argumentou controversamente que pudera ser de sexo feminino, sugerindo que a sociedade primitiva poderia ter sido matriarcal.
A última nova é que quase 1.000 fragmentos adicionais da estátua foram encontrados, após recentes escavações na caverna Stadel, por Claus-Joachim Kind. A maior parte destes são diminutos, mas algumas têm vários centímetros de cumprimento. Algumas das maiores peças já estão sendo reintegradas agora à figura.
Os restauradores têm removido a cola do século 20 e o recheio da reconstrução de 1989, e estão a remontar meticulosamente o Homem Leão, usando técnicas digitalização de imagens. "É um enorme quebra-cabeça em 3D", diz o conservador do Museu Britânico Jill Cook. A nova reconstrução dará uma ideia muito melhor do seu estado original. Em particular, a parte do colo será mais exata, o braço direito mais completo, e a mesma figura alguns centímetros mais alta. Um escultor imaginativo
Um escultor imaginativo
Ainda mais emocionante que a descoberta dos novos anacos, foi a redefinição da idade da escultura mediante a datação por rádio-carbono de outros ossos encontrados no estrato. Isso retarda a data a 40.000 anos atrás, quando até agora pensava-se que a figura tinha 32 mil anos. Uma vez concluída a reconstrução, vários fragmentos pequenos, não utilizados do marfim de mamute serão suscetíveis de ser datados assim mesmo, com o que se espera confirmar este resultado definitivamente.
Esta datação revisada empurra ao Homem Leão de volta entre as mais antigas esculturas, que foram encontradas em outras duas cavernas dos Alpes suabos. Estes raros achádegos estão datados no 35.000 e 40.000 a.C., mas o Homem Leão é, de longe, a peça maior e mais complexa. Alguns itens esculpidos um pouco mais velhos foram encontrados em outras regiões, mas estes mostram padrões simples, não figuração.
O interessante do escultor do Homem Leão é que ele -ou ela- tinha uma mente capaz de imaginação capaz de representar algo mais que as simples formas reais. Como diz Cook: "não é necessário ter um cérebro com um córtex pré-frontal complexo para formar a imagem mental de um ser humano ou um leão, mas isso é precisamente o que se precisa para fazer a figura de um leão-homem". A escultura de Ulm, portanto, lança mais luz sobre a evolução do homo sapiens.
Restauradores experimentaram fazer uma réplica do homem Leão, calculando que um escultor qualificado usando ferramentas de sílex iria demorar-se nele pelo menos umas 400 horas (dois meses trabalhando à luz do dia). Isso significa que o escultor teria que ser sustentado pelo grupo de caçadores-recoletores, o que pressupõe um certo grau de organização social. Há um debate em curso sobre o que o homem-leão representaria, e se ele está ligado ao xamanismo e ao mundo espiritual.
Inicialmente, esperava-se que o original do Homem Leão pudera estar presente na exposição do Museu Britânico, mas isso não foi possível porque os conservadores precisam de mais tempo para ter a figura reconstruída com a maior precisão possível. O Museu de Ulm planeja apresentar de novo a figura já reconstruída no mês de novembro.
Fonte: The Art Newspaper 31-01-2013
Simplesmente magnífico!
ResponderEliminarShow de bola! Estou lendo o livro Sapiens: Uma breve história da humanidade de Yuval Noah Harari. Ele cita esta obra de arte!
ResponderEliminarEste nome Lion foi dado ao meu neto que nasceu em Munique, justamente por ser a estátua mais antiga até hoje encontrada, e que se pronúncia da mesma forma em Português e Alemão.
ResponderEliminarQue dahora, estou aqui graças ao livro O livro dos humanos.
ResponderEliminarLendo a matéria em 2022 graças a Breve historia da humanidade
ResponderEliminar