domingo, 31 de julho de 2011

Racismo Neanderthal - Uma Reflexão


No Landesmuseum Für Vorcheschichte de Halle onde se atopa o disco de Nebra, do que antes falamos, existe uma figura que reproduz a um Neanderthal sentado numa provocativa posse ao “Pensador” de Rodin, que sempre me resultou atraente polo paradoxo que representava, aquel de dotar da expressão das mais altas capacidades intelectuais a alguém a quem se lhe tenhem negado tão a cotio.


Entre o Estigma e a Culpavilidade

O Neanderthal têm tido desde sempre mala prensa, e possivelmente dele se tenham dito cousas bastante absurdas hoje e que nos seus dia parecerem lógicas e ainda provadas verdades e axiomas científicos, o caso e que na mente popular e na de muitos investigadores, e um pouco na de todos nós, o Neanderthal segue ainda jogando –ao seu pesar- esse papel de quinta-essência do "Selvagem" no seu melhor e pior sentido.

Casal de Neanderthais, diorama da Exposición Universal de Paris de 1889

Da vida e, sobre todo, da morte do Neanderthal tense dito muito, desde os que imaginavam quase uma guerra direta pela supervivenza remedando ao mais puro drama de Cain vs Abel, no que, como daquela, aos inventores da civilização tocaria-lhes se-lo assim mesmo do assasinato: sim nós matamos ao neanderthal (mea culpa),  ate os que via a cousa mais ecologicamente como resultado dum conflito mais indireto polos recursos, daquela nós não nos comemos ao Neanderthal, mais nos comememos-lhe a comida a ele, "matamo-lo de fame", em resume …o caso e que o mea culpa, era a respeito escassamente entoado, pois como soia dizer o nosso estimado Eulogio Losada explicando-lhes  o sentido positivo do termo “bárbaro” em castelhano, aos seus surpreendidos alunos franceses da Sorbonne “a fim de contas somos bárbaros e não imos falar mal de nós mesmos”, e quando não há culpa do culpavel obviamente será da vítima a ela, que algo teria feito, entenda-se.

Mas há um pequeno problema, e como é lhe roubamos a comida ao “curmão” Neanderth? que tão bem se conhecia a tundra glacial de toda a vida, era mais forte, perdia menos calor com esse corpo compactado de jogador de rugbi que lle tocara de serie. Dificilmente nos feblinhos lhe ganhariamos um pulso evolutivo a este cachimán dos gelos, a resposta veu ao estilo da bíblica dicotomia de Jacob e Esau, e é que quando não possas com ele, e o tenhas certamente difícil, se mais listo cá ele.


O importante é o Conceito. Simbólico, demasiado simbólico

Certamente nós eramos-che listos, mui listos, e isto dava um bom motivo e coartada para justificar como “suicidáramos” ao bom do curmão Neandert se extinguiu por ser “um pouco mais curtinho” de luzes que nós, ou por dici-lo mais suavemente por não ter “pensamento simbólico”, mesmo com certa “consciência de culpa” ainda podíamos novelar e rodar românticas historias nas que o Neanderth contemplava o seu ocaso no Far West crepuscular dos gelos (Le Dernier Neanderthal), incapaz de se fazeres cós novos dons da cultura sapiente sapiente

Pouco importava, ao respeito que este “incapaz simbólico” enterrara já aos seus mortos em tumbas e num leito de flores …gesto “poético” mas que a alguns paleontólogos não lhe parecia abondo simbólico, pouco importava tampouco que ainda este “curmão” longano pudera mesmo dedicar-se nos momentos livres entre a caça do Mamute e do Bisonte a enredar sacando-lhe a um oso com furados alguma notas coma se dum whistle irlandês se trata-se, muito musical, certamente, diriam alguns mas pouco simbólico polo visto.

Reconstrução do enterramento ritual de Shanidar (Kurdishtan)

Assim se criava um pequeno quadro desses Sapiens Sapiens, (pois quem sabe sabe) e dos menos sapientes Neanderthalenses, vivendo perto, juntos mas não revoltos separados polas suas culturas materiais, e os cérebros capacitados para as mais altas/ou não cotas de expressão simbólica. O caso e que todo isto, o chamado “Big Bang” cultural do Paleolítico superior precisava de várias explicações. Porque este “curmão” longano, com o que nunca nos quisemos relacionar e que nada nos tinha que invejar por crânio, não protagonizou igualmente o “boom” do simbólico?.


Não falas que não te entendo

 Explicações deram-se moitas, alguns diziam que o Neanderth num rasgo mais do seu “imperfeito desenho” fronte o Cromagnon, isto obviamente não se dizia Assi, pois somos tão politicamente corretos como simbólicos, e não queremos ofender; tinha todas as capacidades para a linguagem mas não a ferramenta, já que pela posição da sua gorja não poderia articular toda a variedade de sons do falador Sapiens Sapiens. Então o bom primo bem pudo, aquela manha fria e monótona em que lhe deu em querer departir com Sapiens, rematar parafraseando o verso de Pondal, de facto, e concluir com aquelo de "não nos entendem, não!"

Diferenças entre o aparato fonador de Neanderthal e do Cromagnon

O caso e que quando eu isto escutava e examinava o argumento do tipo de que se lhes faltaria tal ou cal vogal ou consonante, não deixava de matinar em que nisto havia um grande etnocentrismo arredor do nosso próprio conceito de linguagem, e pensava nos bosquimados K!ung Kalahari, e sobre todo nesse “!” que representa um som que nem os europeus nem os asiáticos soemos gastar nas nossas línguas: o “chasquido”, ainda que si o podamos articular, e que para eles é tão natural e frequente como para nos podem ser o resto das vogais

Que pensaria um K!ung de mim que não sei falar com chasquidos de cada dois fonemas, certamente uma possibilidade e que dissera simplesmente que não sei falar, ou que faço “bar,bar, bar” (serei-che parvo!) sem jeito nenhum como diz que fizeram os gregos quando criaram a verba para esses incultos estrangeiros que tatejaban uma xiria sem o mais mínimo sentido e decoro.


O Mal dentro dos Ossos

Todo indicava que nos e esses primos com os que não nos falávamos eram-nos muito alheios, tanto que nem nos devíamos dar o saúdo e, menos, tratar-nos e intimar: que ainda que há classes por muito que isto seja a pré-história, em remedo quase daqueles burgueses vitorianos que viam nos obreiros dos bários industriais “uma raça” aparte. Outros igualmente dizerem o mesmo, confiados no seu stock saxónico e no Glorioso Isolamento (hora insular hora continental), de irlandeses, galeses, italianos ou hotentotes, eram outros tempos e a primazia cultural económica, e política, digamos, “simbólica” devia de vir dalguma parte. E nesses tempos em se empeçavam a cavar fósseis, sacar os primeiros ancestrais da terra, o mesmo tempo que se media o angulo facial e as formas e proporções linneanas do corpo humano dos vivos, preferentemente prostitutas, convictos, e como se soia dizer nalgum tempo “murcianos y otras gentes de mal vivir”, nesses tempos alguns pensarem que essa primazia “simbólica” havia de chegar mesmo aos ossos

Tipos fisicos supostamente galeses, J. Knox; Fisonomia criminal de C. Lombrosso

Assi alguns eram altamente inteligentes e industriosos, dados a civilização e as boas maneiras mentes que havia outros que, não havia mais que ver-lhes a cara, nunca o conseguiriam. No debate entre a Herança e a Cultura a primeira antropologia física inclinou decote, com exceções salientabeis, o equilíbrio cara a biologia e fixo da cultura, do simbólico, um apêndice mais da cor dos olhos ou da beleza geral, jogando cecais com certa estranha tendência do género humano a qualificar a “ética” ou a “bondade” pola "estética".  Obviamente pensava Lombrosso que aos criminais e mulheres de mar viver sempre se lhe notava algo na cara ou mais concretamente no crânio, e certamente nos contos de fadas as princesas sempre são belas, fermosas e exemplos de bons pensamentos e melhores obras, e os perversos feios e mesmo algo monstruosos, e o Neanderth como alguns mineiros galeses certamente não entrava nos cânones estéticos, nem nos perfis gregos, da época.

"Graos de Inteligencia" segundo os angulos faciais supostamente relacionados com niveles arcaismo biológico segundo S. R. Wells, New Physionogmy(1867)

Mesmo alguns quisserão atopar-lhe nisto uma estratigrafia comum a tão incorretos perfis  ao-querer ver nas classes baixas, assim como  nos colonizados exóticos dos outros Terceiros Mundos, os restos de estirpes primitivas, …e isso era malo muito malo pois adulterava a puridade do nosso stock simbólico e nos fazia menos sapiens. Não compre explicar mais a onde nos levou no proceloso século XX tudo isto, penso que está claro


De Primo longano a Avo Re-atopado

O caso e que cecais pela facilidade que têm o passado e quanto mais remoto ainda, para sen converter em Pais Estranho ao nosso Presente, que terá que ver a fim de contas uma coisa coa outra?, no discurso ao redor daquele curmão “pobre”, simbolicamente falando, manteram-se certas contiguidades, e ainda algumas continuidades. Poucos forem certamente partidários nos últimos anos de romper o Apartheid Neanderthal e pensar, mesmo imaginar que nós e esses primos ainda mais alheios que o passado, tivemos mais que ver do que nos gostaria de reconhecer, vergonha tal vez de ser “algo curtos” simbolicamente, ou de parecer pouco aptos para os bons modos da cultura sapiente: o problema dava para um bom psicanalista certamente.

E assim pusesse a ultima fronteira, não nos tratávamos simplesmente porque não nos pudéramos falar largo e tendido ou porque os temas de conversação sapiens foram um pouco espessos e exotéricos -cecais algo intelectuais demais- para os nenanderthais, isso de ser-che “simbólicos de mais”, não nos tratávamos porque simplesmente éramos totalmente distintos -faltaria mais!- e como o aceite e água incomensuráveis, eram já não raças mas espécies diversas, e geneticamente incomunicáveis.

Enterramento de Lagar Velho, Alentejo (Zilhão & Thrinkhaus,2002)

Em todo isto vai anos no Lugar de Lagar Velho em Portugal atopou-se o esquelete dum menino que pareciam ter nos seus ossos, uns estranhos riscos misturados, no que parecia ser um híbrido de ambos Sapiente e Neandertaloide a um tempo. O neno de Lagar Velho deu lugar a uma longa polémica de posições encontradas que se refletiu extensamente daquela na página do Instituto Português de Arqueologia (IPA), e na que se exibirem as mais curiosos argumentos a favor ou em contra da Possibilidade ou Impossibilidade da relação entre Sapientes e Neandertais, que se as suas culturas materiais eram diversas, que se igualmente os seus mundos mentais seriam igualmente alheios.

A mim no fundo mirando como espetador alheio, e não paleolitista, tudo isso não deixava de dar-me a sensação de algo conhecido que poderíamos definir cum termo muito claro no nosso vocabulário: “racismo”, existia um racismo para com o Neanderthal?

Anos depois no célebre documentário A Odisea da Espécie recolhia-se o caso de neno do Lagar Velho numa dessas típicas fabulas românticas em que a última mulher nenanderthal era acolhida por um grupo de homens sapiens, sapiens, case num ato de caridade hominídea, mais o menino froito daquilo era o último grounido do neanderthal, inútil igual que esse amor furtivo e ocasional na linha da evolução. O neno de Lagar Velho era, dizia-se daquela, como essas mulas que saem coma resultado do cruze dos nobres cavalos/éguas e humildes asnos/as, que ainda que possíveis e toleráveis não são viáveis geneticamente a meio prazo para a reprodução. O semi-neanderthal, "filho do amor" era-lhe material de refugalho que marcava só e unicamente a fim duma vizinhança por regra geral pouco sociável, culpa seria do Neanderth com essa cara de túzaro que tinha, e que amais não te falava bem. O Amor polo Neanderthal, a parte de ser socialmente mal aceitado, era um amor estéril

Parecia cerrar-se Assim o circo da "exclusão", mental, cultural, social e agora genética do tantas vezes chamado os nosso curmão longano, o Neanderthal, nunca tivemos nada que –ou quase- ver, e nunca o teríamos.

E todo isto, meus leitores, se dizia quando ainda nem sequer se identifica nenhum rastro da sequência genética dos neanderthais. E o caso e que agora vai um ano graças a uns dentes atopados em Sibéria e alguns outros ossos por aqui e acola, pudesse sequenciar o genoma real de aqueles homens do gelo glaciar, e vaia surpresa, de repente vesse que de tão alheios que eramos, não o éramos a fim de contas, e mais surpresa de repente outros investigadores vem que a uns cantos rasgos genéticos desse genoma de neanderthal encaixam coma luva a mão com alguns riscos "raros" que estão espargidos no genoma de todas as povoações humanas de Sapiens Sapiens que abandonarem África, e dizer que os todos os europeus, asiáticos, americanos nativos e aborígenes australianos temos em comum uns peculiares restos genéticos herdados do neanderthal

Saartije Baartman a chamada "Venus Hotentote" foi exibida em ferias no Paris e Londres do s.XVIII, e logo disecada no Musée de L´Homme

Assim paradoxalmente e malia o que pensavam os vitorianos e o outros "rostros pálidos" do XIX a Vénus Hotentote pouco tinha que ver co prognatismo das camadas neanderthais, pois para neanderthais já estávamos nós, igualmente poderia dar-nos em fantasiar recordando aquela velha película Em busca do Lume que alguns dos nossos riscos europeus bem puderam vir-nos daqueles nossos avos por parte neanderthal, e não do lado Sapiente, simbólico e "africano" que arribava daquela, e pode mesmo, logo o veremos, que isto ainda nos senta-se bem e fosse uma vantagem naquelas terras tão frias e novas.  Certamente, um prato, cortado ao bifaze, que não lhes será de dom gosto a xenófobos, racistas ou etnocentristas vários. Alá eles

E assim agora, probas de paternidade por meio, sabemos que o bom do Neanderth, sim aquele curmão tão rarinho e longano, desses que se vem mais bem pouco, e fundamentalmente nos funerais, ou cecais nas vitrinas dos Museu acompanhando a Chimpazes e Gorilas, era em realidade o Bom do velho Avo Neanderth. E assim comocionados ainda pelo segredo de família descoberto, e com toda a árvore genealógica removida virada patas arriba, só nos queda miram-nos no espelho, fazer algo de propósito de emenda e dizer, a fim de contas: Benvindo a Família


+ INFO sobre isto em: Para Neanderthais Nós

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