terça-feira, 16 de agosto de 2011

Os Petroglifos Atlânticos de Astorga

Petroglifos de Peña Fadiel cos Montes de Leão ao fundo

De vez em quando a arqueologia nos oferece achádegos espetaculares e, em certa forma provocadores, que guardam entre sim um mínimo comum denominador, o de que “isso não devera estar ali”, são restos, objetos ou elementos que pela sua excecionalidade ou simplesmente por escapar da localização que os mapas de distribuição ao uso lhes atribuem, propõem interessantes perguntas e – sobretudo- dúvidas sobre o nosso conhecimento firme do passado: Assim uns barcos demasiado mediterrâneos em uma laje muito ao Norde, uma  Estela com uma estranha iconografia bem longe das suas correntes terras do sul, ou, as vezes, um grupo de gravuras, “atlânticas”, demasiado “atlânticas”, às porta mesmas da Meseta.  Todas estas são escepções que em certa forma obrigam a repensar de cote a regra, quando ela não se ajustarem. As escepções -permitase-nos a parafrase levistrossiana- são boas para pensar

Pormenor dos petroglifos da Astorga

Este último é o caso dos gravados de círculos concêntricos de Pena Fabiel, tipologia tipica do grupo rupestre galaico e doutras zonas da Faciana Atlântica, estes petroglifos foram atopados em 2008 na zona da Maragatería,  por um afeiçoado local, Juán Carlos Campos, que forá quem os dera a conhecer a traves do seu blogue La Tierra de los Amacos. A resultas disto empezou-se a estudar este singular conjunto, froito do qual saiu do prelo recentemente um artigo nas Atas do ultimo Congresso Internacional de Arqueologia de Vilalba, do que já temos falado, relatorio escrito entre outros autores por A. de La Peña, um dos mais reconhecidos especialistas em petroglifos da zona galaica.

Estes petroglifos como outros dos casos que citámos refletem além do anedótico ou do acaso, mais que prováveis contactos de fundo, nos que se trocavam, provavelmente, algo mais que coisas (matérias primas, produtos, presentes, etc.) e nos que mesmo deveram de colar-se-lhes elementos que chamaríamos culturais: crenças, costumes, usos, ou ainda, palavras: terminologias, ditos, mesmo quem sabe se antropónimos, ou em tal caso -e porque não?- de forma ainda mais geral, as proprias Línguas (?).

Isto são  dito de outro jeito o que se soe chamar"Formas de vida”, das quais nos aparecem como restos epidérmicos ainda tangíveis, as vezes, estas “exceções”, dificilmente explicáveis pelo reducionismo ao taxonómico do que tão gosta a arqueologia tradicional, mas que é provável cobrassem muito sentido no contexto e na perspetiva da época em que a alguém, quiçá um forâneo, quiçá autóctone viageiro, ou mesmo -melhor- ambos (destes "matrimónios" entre mundo diversos temos um formoso exemplo num vídeo de uma anterior postagem) se lhe ocorreu gravar estes signos em umas pedras, sem dúvida, não por mera casualidade ou afeição à arte petrográfica ou ao grafitti.

Em resumem: Vejo na imprensa a nova, ainda à espera de poder lhe votar um olho ao artigo, e leio em boca dos autores as seguintes verbas: «Os desenhos plasmados sobre as rochas de Peña Fadiel obrigam a dirigir a mirada para o mundo iconográfico dos gravados rupestres galaicos» , lido tal, não posso evitar que imediatamente me venha à cabeça umas linhas da minha muito estimada Marisa Ruiz-Gálvez, nas que fala precisamente de esses contactos entre Ocidente e Meseta, e, indo a minha biblioteca, colho o gastado volume de  A Europa Atlântica , e albisco entre os muitos marcadores onde atopo cedo a cita que assim diz:  

“  Todo isso desenha uma rede de movimentos e relacionamentos de vários milénios de duração, ao longo de gerações trás de gerações [...] que permitirom o livre deambular de homens, gados e mercadorias. Custar-me-ia pensar que isso não tivesse repercussões de tipo linguístico, E ainda começo a propor-me se não será aqui e neste contexto, e não no hipotético avanço à Meseta oriental de gentes ultra-pirenaicas portadoras de linguas IE, onde haveria que buscar a origem de lenguas célticas como o proprio celtibérico" (p. 258).  E algo disso haverá também em isto

Os hápax legómenon, certamente, ”são bons para pensar” e ainda melhores para re-pensar


+ INFO sobre isto em:  Os petroglifos da Maragateria 

3 comentários:

  1. Marcial,sobre el Teleno,en Rúa Aller ,F.J y Rubio Gago ,M.E , “La piedra celeste ,creencias populares leonesas “ (edit.por la diputación de León )se recoge una información de boca de una vecina de Molina ferrera (León) ,todavía 1981 ,según la cual siete vacas o bueyes (según dice el autor,podrían ser las nubes) arrastraban el carro solar de un lado a otro del monte Teleno durante el día.

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  2. Ou se poderia exclamar "Om Suryaya namah"... Om, saudação ao Sol brilhante, ou " Om Adityaya namah", Om saudação ao primordial Sol, pois surge nas representações solares feitas pelos Sauryas, a seita dos adoradores solares, na India, a quadriga do Deus Sol, com a auréola circular à volta da cabeça (prabhamandala), puxada pelos 7 cavalos, seja dos planetas, seja dos dias da semana, seja dos chakras ou centros de raios e qualidades energéticas... Deve pois haver aí uma memória muito antiga de cultos solares, de que ficou essa imagem cultual e iconográfica no inconsciente colectivo e no corpus tradicional folclórico...

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